O ambiente de supervisão e
regulação do sistema previdenciário brasileiro e a relativa independência
dos órgãos responsáveis por esse trabalho são alguns dos principais fatores
positivos de inserção do Brasil entre os países que têm aperfeiçoado esse
sistema de maneira gradativa e consistente.
Além disso, aspectos ligados
especificamente à previdência complementar fechada, como o avanço na
diversificação da alocação de ativos pelos fundos de pensão brasileiros ao
longo dos últimos anos e o fortalecimento das regras de solvência entre as
Entidades Fechadas de Previdência Complementar têm contribuído para elevar a
posição do sistema nos rankings globais do setor.
Ao mesmo tempo, o aumento do
nível de poupança previdenciária entre os indivíduos, ainda que modesto, também
ajudou a melhorar essa classificação.
A sustentabilidade do
sistema, entretanto, dependerá em boa parte de sua capacidade para elevar o
volume de contribuições uma vez que, quanto maior for o índice de
contribuições, mais sustentável será a previdência.
É o que mostra a sétima
edição do MMGPI Melbourne Mercer Global Pension Index, que avaliou 25 sistemas
em todo o mundo em relação a mais de 40 indicadores, comparando quesitos
relativos à sua adequação, sustentabilidade e integridade,
incluindo os programas públicos e privados de previdência. Segundo
o estudo, que cobre 60% da população mundial, o Brasil conseguiu subir da 18ª
para a 17ª posição em relação a 2014. “Ainda que o sistema brasileiro
esteja um pouco distante de alguns países cujas previdências merecem
classificação “A” e “B”, o seu esforço de supervisão e regulação tem
demonstrado contínuos aperfeiçoamentos”, pondera o consultor sênior da área de
Previdência da Mercer no Brasil, Eduardo Correia.
A classificação no grau “C”
qualifica os sistemas que estão nesta faixa como tendo características
positivas, mas também apresenta riscos e deficiências consideráveis que devem
ser solucionados.
“A previdência no País está classificada em posição
mediana, próxima à dos Estados Unidos, e o sistema brasileiro como um todo está
muito bem situado no quesito adequação, obteve uma nota mediana em integridade,
porém ainda está mal no quesito sustentabilidade”, explica Correia.
Tratamento fiscal e
independência - Entre os itens que favorecem a nota brasileira está o
tratamento fiscal diferenciado para os planos de previdência e o nível de
reposição dos salários levando em conta o salário médio da população
brasileira, pontuação positiva obtida graças aos benefícios pagos pela
Previdência Social na comparação com o nível médio de renda do
trabalhador.
As notas baixas dizem respeito principalmente à ausência de
idade mínima para acesso aos benefícios, ao contrário do que existe em diversos
outros países; a falta de participação obrigatória na previdência privada
e o fato de que nos casos de separação ou divórcio de casais não existem regras
que permitam tratar a poupança previdenciária como um bem a ser compartilhado.
Nesse sentido, a adesão automática como ferramenta para aumentar o nível de
contribuições na previdência privada é um caminho fundamental para aperfeiçoar
o sistema, diz o consultor, assim como o aumento da idade mínima da idade para
a aposentadoria oficial.
No quesito integridade, o
Brasil está bem situado, lembra Correia, principalmente por conta da
independência dos órgãos de supervisão e regulação, seguido pela diversificação
dos investimentos dos fundos de pensão e em terceiro lugar pela solidez da
regulação de funding (solvência). Vale lembrar que, entre os países avaliados,
apenas onze – Austrália, Áustria, Brasil, Dinamarca, Finlândia, Indonésia,
Irlanda, Holanda, África do Sul, Suíça e Reino Unido – possuem órgãos
independentes.
O desafio de ser
sustentável - No que diz respeito à sustentabilidade, Correia lembra que pesou
negativamente o fato de o Brasil estar longe da recomendação do MMGPI segundo a
qual pelo menos 70% das pessoas pertencentes à PEA (População Economicamente
Ativa) devem contribuir para planos de previdência privada. “Nesse aspecto o
sistema brasileiro perde de lavada, assim como também na relação entre ativos
de previdência privada e PIB, quesito no qual alguns países apresentam
percentuais de até 150% ou 160% enquanto o Brasil tem menos de 20%”.
Outro
aspecto importante, ressalta o consultor, será elevar o percentual de pessoas
com idade entre 55 e 64 anos que ainda trabalham. Estender o período laboral é
um dos pontos básicos para a sustentabilidade dos sistemas previdenciários em
todo o mundo e a recomendação é de que esse percentual seja de no mínimo 65%.
Na Suécia, por exemplo, 77% dessas pessoas ainda trabalham. No Brasil, esse
índice é de 55%, abaixo portanto do recomendado. “Há, porém, a percepção de que
esse percentual deve ser mais elevado na prática, por conta do elevado grau de
informalidade no mercado de trabalho”, admite o consultor.
Diante dos avanços obtidos e dos desafios ainda
presentes, o estudo recomenda aos diversos países algumas medidas no rumo da
eficácia e da sustentabilidade. No caso do Brasil, algumas reformas são
prioritárias.
Entre elas, a introdução de idade mínima para acesso aos
recursos previdenciários; aumento da cobertura dos empregados em
programas de previdência complementar; aumento da participação dos empregados
nesses programas por meio da adoção do mecanismo de adesão automática;
introdução de um nível mínimo de contribuições obrigatórias no plano de
previdência; aumento da idade de aposentadoria pela previdência social ao longo
do tempo, considerando a progressão da expectativa de vida; introdução de
regras que protejam os direitos e interesses das partes em um processo de
divórcio também no que se refere aos recursos dos planos de previdência e a
possibilidade de aposentadoria gradual com o pagamento de pensões parciais.
Diário dos Fundos de Pensão