Desde o final do
ano passado, vários indicadores mostram que a recuperação da atividade tem
perdido fôlego. As previsões de crescimento para 2019 têm sido sucessivamente
revisadas para baixo, começando a se aproximar das taxas de
crescimento verificadas em 2017 e 2018.
Os dados da Pnad
Contínua do IBGE divulgados na terça (30) evidenciaram as
consequências desta recuperação anêmica sobre o mercado de trabalho, com
elevação da taxa de desemprego para 12,7% no primeiro trimestre, e 13,4 milhões
de desempregados.
Quando se utiliza
o conceito mais amplo de trabalhadores subutilizados, que além dos
desempregados inclui os trabalhadores que gostariam de trabalhar mais horas,
aqueles que não estavam disponíveis para trabalhar por algum motivo, e os que
desistiram de buscar emprego, o quadro é ainda mais dramático. Segundo esta
medida, a taxa de subutilização foi de 25%, atingindo mais de 28 milhões de
pessoas.
Além disso, os empregos
gerados têm sido predominantemente informais. Segundo a Pnad Contínua, 39,5
milhões de trabalhadores encontravam-se na informalidade no primeiro trimestre,
o que corresponde a 43% da população ocupada.
Além de
representar um grave problema social, esse enorme contingente de trabalhadores
desempregados, subutilizados ou na informalidade reduz a capacidade produtiva
da economia.
No caso do
desemprego ou subutilização, isso ocorre devido à menor incorporação do
trabalho no processo produtivo. O efeito negativo da informalidade, por sua
vez, decorre do fato de que trabalhadores informais, de modo geral, são
empregados em empresas de baixa produtividade. Estimativas do Ibre /FGV
(Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) indicam que cerca
de metade da queda de produtividade desde o início da recessão deveu-se ao
aumento da informalidade.
Embora a recessão
tenha contribuído muito para a deterioração do mercado de trabalho nos últimos
anos, esse quadro desolador também reflete um problema de caráter estrutural,
que diz respeito à baixa geração de empregos de boa qualidade.
As inúmeras
distorções do ambiente de negócios no Brasil reduzem a competição, dificultando
o crescimento das empresas mais produtivas, e facilitando a sobrevivência de
firmas de baixa produtividade.
Isso diminui a
geração de empregos com salários mais elevados e maior proteção social, e
resulta na absorção de grande parcela da mão de obra em empresas menos
produtivas, que pagam salários mais baixos e não oferecem acesso a seguros
sociais.
Uma reforma profunda
do ambiente de negócios é a única forma de melhorar de forma sustentada a
quantidade e qualidade do emprego no Brasil.
Fernando Veloso, pesquisador do Ibre/FGV