Brasil discute
Previdência a cada dez anos; relembre negociações de FHC e Lula. Dilma fez
'minirreforma' com mudança em pensão por morte e fórmula 85/95
Na história mais
recente do Brasil, a cada quase dez anos o país se vê envolto em intensos
debates sobre mudanças em seu sistema previdenciário.
Desde a última
sexta-feira, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e deputados têm trocado farpas sobre a tramitação da reforma
na Câmara. O presidente da comissão especial Marcelo Ramos (PR-AM) chegou a dizer
na última semana que o Congresso estuda apresentar uma nova reforma.
Bolsonaro criticou os políticos brasileiros
na sexta e segunda, pela manhã. À noite, mudou o tom e disse que valoriza o
parlamento e tem cinco deputados entre seus ministros.
O debate repete
um roteiro já visto nos últimos anos. Foi assim nos anos 1990, no governo
do tucano Fernando Henrique Cardoso, nos anos 2000, na era Luiz Inácio Lula da
Silva (PT), e na segunda década do novo milênio, com sua sucessora Dilma
Rousseff e com o ex-presidente Michel Temer (MDB).
A experiência dos
últimos 20 anos mostra que a tarefa é árdua, o que acaba resultando em reformas
picadas que até hoje não resolveram o desarranjo nas contas da Previdência,
cujo déficit só aumenta e pressiona a situação fiscal do país.
FHC
apresentou sua PEC (Proposta de Emenda Constitucional) da Previdência em 1995.
A aprovação só veio três anos depois e ainda assim em um texto muito
desidratado —não criou, por exemplo, a idade mínima para a concessão
de aposentadoria.
"Só foi aprovada
em circunstâncias muito especiais como forma da mostrar comprometimento com
reformas e evitar uma corrida ao câmbio, o que efetivamente acabou acontecendo
depois", diz o economista Fabio Giambiagi, especialista em Previdência.
Em 2003, Lula avançou
na reforma de FHC ao mirar o funcionalismo público. O ex-presidente pediu a seu
ministro da Previdência na época, Ricardo Berzoini, pressa no início das
negociações em torno da proposta, cujo cerne inicial era unificar os sistemas
da iniciativa privada e dos servidores públicos.
O governo cogitou
ainda incluir exigência de idade mínima para o INSS (Instituto Nacional do
Seguro Social), proposta que havia sido rejeitada anteriormente pelo
Congresso com o apoio do próprio PT.
O texto também
acabou saindo mais enxuto, mas demorou menos: cerca de sete
meses. Assim, quem ingressou na carreira pública a partir de 2004 perdeu o
direito à aposentadoria integral e à paridade entre ativos e
inativos. Além disso, foi criado um teto para a aposentadoria dos servidores
—vencimentos acima dele são feitos por um sistema complementar— e a
contribuição previdenciária dos já aposentados passou a ser taxada.
FOLHA DE SÃO PAULO