O economista Fábio
Giambiagi, do BNDES, observa no começo de seu artigo que o pressuposto no
regime de capitalização é que, como ocorre com uma aplicação normal no sistema
financeiro, o rendimento pode ser bom - ou não. A pergunta relevante é:
qual é a linha de corte para definir que o cidadão tem que estar consciente de
que, se o rendimento não tiver sido bom, a sua aposentadoria será prejudicada
por isso?
Se uma pessoa com
salário de R$ 30 mil aplica sua poupança num PGBL de perfil agressivo e este
não rende bem, o governo não tem nada com tal fato e o participante tem que
estar ciente dos riscos que corre.
Será que cabe o mesmo
raciocínio no caso de alguém que ganha R$ 2.500 por mês? Tenho dúvidas a
respeito.
Há consenso de que
alguém que ganha um salário mínimo (SM) não tem as características que o
tornariam um candidato a ingressar no sistema de capitalização. Ao mesmo tempo,
há também consenso entre os especialistas de que o teto do INSS, de quase 6 SM,
é elevado para os parâmetros de renda do país, comparativamente a outros
países. Reduzir o teto para 5 SM praticamente não mudaria nada.
É válido concluir
que, se o país migrasse para a capitalização, uma "linha de corte"
razoável seria em torno de um nível de R$ 3 mil, ou seja, em torno de 3 SM
(hoje, R$ 2.862).
Uma forma de lidar
com o problema do custo da transição para as contas públicas é definir que
a mudança vale só para quem entra no sistema a partir de uma data. Mesmo
assim, há questões que devem ficar claras. Imaginemos que a capitalização
já estivesse vigente para quem ganha mais de 3 SM. Quanto a menos gastaria o
INSS?
A resposta é um pouco
frustrante.
Atualmente, 10% dos
beneficiários do RGPS recebem benefícios acima de 3 SM e respondem por 25% da
despesa do INSS. O problema é que quem ganha, por exemplo, R$ 3.400 não
receberia toda a aposentadoria do fundo de pensão e sim seria objeto de dois
pagamentos: um do INSS até 3 SM e outro, desse fundo, no valor da diferença
entre esse teto e o valor pelo qual teria contribuído.
Quando se leva isso
em conta, conclui-se que se o sistema estivesse operando hoje com um teto de 3
SM (repita-se, R$ 2.862) o INSS pouparia apenas 6 % do que gasta.
Ou seja, se a reforma
tivesse sido aprovada no passado, o INSS continuaria gastando 8 % do PIB! A
pergunta é se, nesse caso, justifica-se mudar a natureza do sistema. Não tenho
claro isso. Ainda que seja possível adotar um modelo misto, com algum
ingrediente de capitalização, a conclusão é que o componente chave da reforma
precisa ser, claramente, uma mudança paramétrica.
VALOR ECONÔMICO