A proposta de
desviar recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) para cobrir despesas
com aposentadorias e pensões está entre os pontos mais polêmicos do relatório
apresentado nesta quinta-feira (13) pelo relator da reforma da Previdência,
deputado Samuel Moreira (PSDB).
Atualmente, a
Constituição determina que 40% dos recursos do FAT devem ser direcionados ao
BNDES. O relator acatou emenda do deputado Eduardo Cury (PSDB-SP), que propõe o
redirecionamento dos recursos, "que deixariam de ser destinados ao
financiamento de programas de desenvolvimento econômico".
Essa possibilidade
foi recebida com apreensão no banco, segundo pessoas relacionadas à
instituição.
“Cerca de 37% do
orçamento do BNDES vêm do Tesouro, já são recursos contingenciáveis. Outros 35%
são compostos pela verba do FAT. Se tirar a transferência obrigatória, a
situação é mega preocupante”, diz a advogada Letícia Queiroz, no escritório
Queiroz Maluf.
“O banco ficaria
mais dependente de recursos que variam de acordo com a arrecadação e a vontade
política. É ruim porque a instituição financia projetos em que o mercado de
capitais não investe porque não tem retorno certo”, diz.
Projetos de longo
prazo no país, como os ligados, por exemplo, a ferrovias, serão diretamente
prejudicados pela mudança, diz Venilton Tadini, presidente da Abdib (Associação
Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base).
"A mudança é
um equívoco pavoroso, parte do pressuposto de que o BNDES é pouco utilizado,
mas isso acontece hoje porque o investimento em infraestrutura está
baixo."
"Em uma
eventual retomada econômica, haverá escassez de financiamento. Reduzir mais
ainda o orçamento do banco é uma temeridade."
Felipe Salto,
diretor da IFI (Instituição Fiscal Independente), órgão ligado ao Senado,
afirma que a desidratação daquilo que importa, que são as mudanças das regras
previdenciárias, foi alta. Ele critica a tentativa de recompor essa economia
perdida com medidas de aumento de receitas de outras fontes.
"Questões
como o FAT nada têm que ver com a Previdência. É retirar o financiamento do
investimento, o pouco que existe, para pagar despesa corrente", afirma.
FOLHA DE SÃO PAULO