Persio
Arida critica 'Plano Marshall' do governo para reativar economia após crise do
coronavírus.
Economista afirmou também que é
necessário se preparar para uma longa travessia até o fim da crise atual.
O
economista Persio Arida, ex-presidente do Banco Central, classificou como
equivocada a proposta do governo federal de reativar a economia no período
pós-crise do coronavírus a partir de um grande plano de investimentos públicos.
Para o economista, a iniciativa vai agravar o problema das contas públicas..
Inspirado
no “Plano Marshall”, em referência ao programa dos EUA de recuperação de países
aliados após da Segunda Guerra Mundial, o programa deve durar dez anos.
A
proposta enfrenta resistência do Ministério da Economia, sob comando de Paulo
Guedes e foi criticada abertamente nesta quarta-feira (22) pelo
secretário especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados do
ministério, Salim Mattar.
“Há
ideias totalmente equivocadas, como a de setores do governo Bolsonaro que
querem fazer um Plano Marshall para reavivar a economia na base do investimento
público, o que agravaria o problema da dívida pública mais à frente”, afirmou
Persio nesta quarta (22) durante a 6ª edição da Brazil Conference at Harvard
& MIT, realizada pela internet.
O
economista afirmou que a dívida pública deve subir de cerca de 75% do PIB
(Produto Interno Bruto) para perto de 90% e que é necessário estabilizar esse
endividamento por meio de mais crescimento econômico, o que depende de reformas
que possam aumentar a produtividade, nas áreas tributária, administrativa e de
abertura comercial, por exemplo.
Para
ele, um aumento da dívida para 100% não seria um problema, caso haja a
percepção de que será possível estabilizar o indicador.
Afirmou
também que imaginar que tudo voltará ao normal em poucos meses é uma ideia
inteiramente equivocada e que é necessário se preparar para uma longa
travessia.
O
economista Eduardo Giannetti, que também participou do debate, afirmou que o
relaxamento das restrições de circulação no país deve se basear em critérios de
saúde pública, valorizando a vida humana acima de qualquer outro parâmetro.
“Enquanto
não tivermos esses condicionantes bem encaminhados, folga no sistema de saúde e
um conhecimento de que o pior da curva passou, acho que é absolutamente
prematuro, uma aventura temerária, pensarmos em relaxar, com mais ou menos
agressividade, as restrições de atividades”, afirmou.
“O
que vai determinar a saída, para passarmos da respiração por aparelhos para
convalescença [da economia], é fundamentalmente a dinâmica da própria pandemia.
A intensidade dela, que ainda é desconhecida, a duração e a pesquisa, prevenção
e cura”, afirmou Giannetti.
FOLHA DE SÃO PAULO