Diante de uma queda significativa no valor de títulos locais,
desempenho de ativos de renda variável baixo e poucas perspectivas de
recuperação em breve, a Fundação Cesp, que tem 23,2 bilhões de reais em ativos,
descumprirá sua meta autorial pelo terceiro ano consecutivo em 2015.
As perspectivas para 2016 não são muito melhores, segundo o
presidente do fundo, Martin Glogowsky.
O país enfrenta sua recessão mais longa desde a Grande
Depressão, a inflação mais alta em 12 anos e as taxas de juros mais elevadas desde 2006.
A Funcesp não enxerga muitos ativos atrativos disponíveis para
investidores de longo prazo no momento, mesmo com o valor nominal do Ibovespa
em cerca de metade da média das ações de mercados estrangeiros e após uma venda
generalizada de títulos públicos neste ano.
As ações dos bancos estão próximas do nível mais barato em mais
de uma década, mas o diretor de investimento da Funcesp, Jorge Simino, acha que
os preços podem cair mais.
As ações estrangeiras que poderiam eventualmente defender o
fundo da turbulência no Brasil estão caras demais após o real cair a um nível
recorde neste ano. O fundo já mantém 20% de seus ativos nos investimentos de
curto prazo mais seguros e estuda ampliar essa porcentagem.
“A volatilidade é enorme, absolutamente enorme”, disse
Glogowsky, em entrevista na semana passada no escritório da Bloomberg em São
Paulo. “Você pode se sair bem em um mês e no outro simplesmente afundar”.
Todo esse pessimismo foi primordial em como Simino decidiu
colocar o dinheiro para trabalhar no Brasil na atualidade.
É “esperar, ver e rezar”, diz ele. “Uma nova abordagem para o
investimento”.
Meta alta
O fundo, que gerencia contas de aposentadoria de trabalhadores
de 10 empresas brasileiras de eletricidade, espera registrar um retorno total
de cerca de 10% neste ano, abaixo de sua meta de 15,5%. Embora a desaceleração
da inflação no ano que vem deva reduzir sua meta para cerca de 11%, este
provavelmente ainda é um patamar muito alto dada a perspectiva para o país,
disse Simino.
Em meio às projeções do maior déficit orçamentário desde 2002 e
a uma crise política que paralisou o governo, os investidores estão pessimistas
em relação às chances de o Brasil restaurar o crescimento rapidamente.
A queda de 32% do real em relação ao dólar neste ano ajudou o
Ibovespa a registrar o pior desempenho do mundo entre os principais índices
acionários.
O Brasil foi cortado para junk (grau especulativo) pela Standard Poor’s no mês
passado, enquanto as outras duas principais agências de classificação mantêm o
país no limiar da perda de seu grau de investimento.
O fundo, com sede em São Paulo, é o maior fundo de pensão do
país não conectado a uma empresa estatal e gerencia o dinheiro de cerca de
15.000 trabalhadores em atividade e 31.000 aposentados.
A renda fixa representa cerca de 80% de seu portfólio de
investimentos e as ações respondem por 12%, com o restante dividido entre
imóveis e empréstimos aos seus membros.
Metas descumpridas
A Funcesp não é o único fundo de pensão brasileiro com retornos
que ficam abaixo das metas. Em média, os fundos do país descumpriram suas metas
em 2013, em 2014 e nos seis primeiros meses deste ano, segundo a associação de
fundos de pensão.
No período de 10 anos até 2014, a Funcesp registrou um retorno
de 305%, contra uma meta de 198%, segundo seu site.
O Congresso brasileiro dividido e os esforços para aprovação do
impeachment da presidente Dilma Rousseff estão
atrasando as medidas fiscais que restaurariam a confiança e são os piores
problemas do país sob a perspectiva dos investidores, segundo os gestores da
Funcesp. Mas o Brasil passou por crises antes e se recuperará desta também,
disseram Glogowsky e Simino.
“Podemos dizer que já
vimos esse filme antes, porque passamos por situações piores”, disse Glogowsky.
“Mas hoje eu acho que a questão política está tomando conta”.
Revista Exame