O mundo passa por profundas transformações, e o mercado imobiliário, que
está no epicentro das mutações que devem ocorrer nos centros urbanos nos
próximos anos, deve se preparar para planejar as mudanças que tornarão os novos
produtos adequados à nova ambiência socioeconômica, digital e tecnológica que,
de maneira bastante intensa, afetará a forma como as pessoas moram, trabalham,
compram e se divertem. Em artigo ontem, o engenheiro Claudio Bernardes entende
que os empreendedores
em condições de se anteciparem às tendências terão muito mais chances de
sucesso.
É fato que a população urbana mundial crescerá em torno de 75% até 2050,
chegando a aproximadamente seis bilhões de pessoas. Além disso, a
estratificação etária mudará de forma considerável e influenciará o perfil de
usuários dos produtos imobiliários, que também será alterado.
Segundo a revista The Economist, pela primeira vez na história, o
número de pessoas com idade acima de 60 anos deve superar o de pessoas com
menos de 15 anos. Esse fato pode introduzir um limitador no preço dos imóveis,
gerando um processo de deflação crescente conforme a intensificação desse
fenômeno. Isso deve mudar não só a concepção dos produtos para que eles se
adaptem a esse novo perfil de usuários, mas levar a estrutura de custos de uma
relevante parcela do mercado a se acomodar em um eventual novo patamar de
preços.
A sustentabilidade
foi absorvida pelo mercado e está incorporada em alguns produtos
imobiliários, principalmente nos países mais desenvolvidos. Contudo, a médio e
longo prazo, esses conceitos serão incorporados à grande maioria
dos produtos. Segundo relatório da PwC, mantidas as características das
edificações existentes hoje, e com o crescimento previsto da população urbana,
haverá um aumento de 50% no consumo de energia e de 40% no de água potável.
A tecnologia chegou de forma definitiva na vida das pessoas, trazendo
alterações nos conceitos fundamentais de planejamento dos produtos
imobiliários.
Com a queda de custos para melhorar o desempenho ambiental dos
edifícios e em função das inovações
tecnológicas, como painéis solares e sistemas de aquecimento mais
eficientes, a incorporação desses equipamentos nas edificações será uma
exigência do mercado, causando desvalorização naqueles produtos que não
incorporarem as novas tecnologias.
Em função desses avanços, a necessidade de espaço físico está
diminuindo e se alterando de forma significativa nos diversos setores do
mercado imobiliário.
Os espaços em escritórios não estão só diminuindo, mas sendo
compartilhados, numa revolução que está no início, mas deve evoluir rapidamente
à tendência de substituição da venda de mercadorias pela venda de serviços no
mercado imobiliário.
À medida que crescem as compras online, diminuem os espaços para as
lojas físicas, e como o tempo de entrega das mercadorias deve ser cada vez
menor, aumenta a necessidade de locais de armazenamento mais próximos dos
consumidores.
Contudo, segundo os especialistas, embora existam produtos cada vez mais
comprados na internet, setores como saúde e beleza serão mais resistentes a
esse fenômeno. O segredo, portanto, será combinar o varejo físico e o digital
em uma única plataforma. Por exemplo, centros de compras que combinem lojas de
demonstração com restaurantes, áreas de entretenimento e vida social.
As mudanças seguramente estão por vir. Empreendedores imobiliários em
condições de se anteciparem às tendências emergentes e que puderem se preparar
adequadamente para incorporá-las em seus produtos terão muito mais chances
de sucesso.
FOLHA DE SÃO PAULO