PERSPECTIVA SEMANAL


                              

Brasil deixa status de neutro e entra na linha de fogo de Trump.

O anúncio de uma tarifa de 50% sobre exportações brasileiras por parte do presidente Donald Trump marca um ponto de inflexão na relação bilateral com os Estados Unidos. 

O Brasil deixa, assim, o status de “neutro” no tabuleiro geopolítico e passa a ser alvo direto da nova agenda comercial americana. 

O motivo alegado para as tarifas é questionável: o Brasil tem um déficit quase nulo na balança comercial com os EUA e um déficit expressivo na balança de serviços. 

A sinalização é mais política do que econômica, com críticas explícitas de Trump ao processo contra o ex-presidente Bolsonaro e ao que chamou de “ataques à liberdade de expressão” promovidos pelo Supremo Tribunal Federal.

O impacto econômico direto não é desprezível. Os EUA respondem por cerca de 12% das exportações brasileiras. 

Estimativas iniciais indicam uma perda potencial entre US$ 10 e US$ 15 bilhões por ano, o que pode representar uma queda de até 5% nas exportações totais do Brasil, concentrada especialmente em setores como aço, celulose, madeira e aeronaves. 

Em termos de crescimento, o impacto é negativo, estimado entre 0,3 e 0,5 ponto percentual no PIB, com efeitos mais fortes esperados para o quarto trimestre deste ano. 

A inflação, no curto prazo, pode até sofrer pressão de baixa, especialmente em alimentos, como carne bovina, caso haja redirecionamento de produtos ao mercado interno. No entanto, o câmbio será o fator determinante, podendo pressionar os preços dependendo da intensidade da depreciação.

O real já vinha sofrendo com fatores locais e externos, e o anúncio das tarifas adiciona mais um vetor de pressão. 

Modelos da nossa área indicam que, para compensar a perda nas transações correntes, o câmbio poderia se depreciar entre 5% e 7%, ainda que com grande incerteza. 

Além disso, o Brasil passa a perder competitividade relativa frente a outros emergentes que continuam fora do foco americano. A leitura de risco geopolítico para o país mudou, e o investidor pode começar a precificar esse novo status. 

A dúvida principal está na profundidade da represália e se ela irá escalar: o Brasil é relevante o suficiente para servir de exemplo, e engajado em temas caros à administração Trump, como regulação de plataformas e meio ambiente.

Diante desse cenário, o Banco Central deve reforçar a estratégia de cautela. A mensagem de “esperar para ver” ganha ainda mais força, com foco especial na trajetória do câmbio. 

A autoridade monetária já vinha destacando a importância dos efeitos secundários da política monetária e a necessidade de compromisso com as metas. As incertezas trazidas pelas tarifas reforçam esse viés. 

Em resumo, o Brasil perde o status de neutralidade no contexto internacional e passa a ter um prêmio de risco adicional relacionado à política externa americana. 

O câmbio deve ser monitorado de perto, assim como a intensidade da reação dos fluxos de capital. O Banco Central, por sua vez, deve seguir vigilante, reforçando o modo de espera enquanto observa os desdobramentos da nova fase do comércio global.
    


Inflação e atividade nos EUA; indicadores econômicos na Europa; PIB e inflação na Ásia; e atividade e inflação no Brasil.

Nos Estados Unidos, a semana será intensa, com divulgação de diversos indicadores econômicos e falas de membros do Federal Reserve (Fed). 

Hoje (15), serão divulgados a Inflação ao Consumidor (CPI) de junho, o Índice de Atividade Empire State de julho, além de discursos de Bowman, Barr, Barkin, Logan e Collins. Para o CPI, o mercado projeta alta de 0,3% M/M no índice cheio e no núcleo. 

Na quarta-feira (16), saem a Inflação ao Produtor (PPI) de junho, a Produção Industrial do mesmo mês, o Livro Bege do Fed e falas de Barkin, Barr, Williams e Hammack. 

Para o PPI, as expectativas são de alta de 0,3% M/M no índice cheio e 0,2% M/M no núcleo. Na quinta-feira (17), serão divulgados os dados de Vendas no Varejo de junho, Preços de Importação de junho, os pedidos semanais de seguro-desemprego e o Índice de Atividade do Fed Filadélfia de julho, além de discursos de Waller, Cook, Daly e Kugler. 

Por fim, na sexta-feira (18), saem os dados de Início de Novas Construções e Licenças para Construções de junho, bem como a leitura preliminar da confiança do consumidor da Universidade de Michigan de julho, com expectativa de melhora em relação a junho.


Na Europa, a agenda também será cheia, com foco em inflação. Na segunda-feira (14), estão previstos discursos de Vujcic e Cipollone, do Banco Central Europeu (BCE). Na terça-feira (15), serão divulgadas a Pesquisa ZEW Econômica de julho para Alemanha e Zona do Euro, e a Produção Industrial do bloco referente a maio. 

O mercado projeta alta de 0,7% M/M para o indicador. Na quarta-feira (16), a Zona do Euro publica sua Balança Comercial de maio, enquanto o Reino Unido divulga o CPI de junho e as Vendas no Varejo do mesmo mês. 

As expectativas para o CPI britânico são de alta de 0,1% M/M e 3,4% A/A, enquanto o varejo deve subir 0,2% M/M. 

Na quinta-feira (17), será divulgada a leitura final do CPI da Zona do Euro de junho, com projeção de alta de 0,3% M/M e 2% A/A, e a taxa de desemprego do Reino Unido de maio, esperada em 4,6%. 

Na sexta-feira (18), a Alemanha publica o PPI de junho, com expectativa de alta de 0,1% M/M e queda de 1,3% A/A.

Na Ásia, a semana trará dados importantes de atividade e inflação. Na segunda-feira (14), o Japão divulga as Encomendas de Máquinas de maio, enquanto a China publica os dados da Balança Comercial de junho. 

Na terça-feira (15), os destaques serão os dados chineses de PIB do segundo trimestre, Produção Industrial e Vendas no Varejo, todos referentes a junho. 

A mediana de expectativas para o PIB é de alta de 5,1% A/A e 0,9% T/T. Para Produção Industrial e Varejo, as projeções são de 5,6% A/A e 5,2% A/A, respectivamente. 

Na quarta-feira (16), o Japão divulga sua Balança Comercial de junho. Para encerrar a semana, na sexta-feira (18), o Japão publica o CPI de junho, com expectativa de alta de 3,3% A/A no índice cheio e nos dois núcleos.

No Brasil, a semana terá agenda mais esvaziada, com poucos indicadores relevantes. 

Na segunda-feira (14), são divulgados o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) de maio, o Relatório Focus e a Balança Comercial semanal. Na quinta-feira (17), será publicado o Índice Geral de Preços – IGP-10 de julho.


 



SULAMERICA INVESTIMENTOS
Tel: 11 5044-4774/11 5531-2118 | suporte@suporteconsult.com.br