Felipe Ohana,
economista, ex-diretor do Ipea e subsecretário de Política Econômica do
Ministério da Fazenda, e Carlos Eduardo de Freitas, economista, ex-diretor
do Banco Central e Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda,
dizem haver uma inequívoca necessidade de ajuste nas contas da
Previdência.
No entanto,
o interesse do Governo Federal no ambiente eleitoral de 2018 ensejou a
vedação do debate e da transparência sobre o modelo de ajuste. Argumentou-se
sobre a injustiça de os estáveis no mercado de trabalho aposentarem-se aos 54
anos, em comparação aos que só conseguem fazê-lo por idade aos 65 anos,
omitindo a informação de já existir idade mínima para aposentadoria para os que
desejam benefício integral. Esta idade é 63 anos com 37 de contribuição (tabela
do fator previdenciário). As aposentadorias consideradas precoces pagam multa
de 34%. O clamor contra "privilégio" era manobra de marketing, com a
intenção de desprestigiar o tempo de contribuição, de forma que os
trabalhadores formalizados continuassem pagando até 65 anos, para financiar
tanto aqueles que só contribuem com 15 anos, como o grupamento significativo
daqueles que sequer contribuem.
Para que os
representantes do povo possam decidir conscientemente sobre o que fazer, é
preciso que o Governo coloque o problema de forma clara, separando na
Previdência os seus três grandes componentes de despesa - aposentadorias,
seguros e assistência social (27% das despesas de benefícios não têm
contrapartida em contribuições). Dito de outra forma, trata-se, na prática, de
grande programa de assistência social oculto no INSS. A Previdência Rural arrecada
apenas 7,25% de todos os benefícios que paga, os quais representam nada menos
que 22% da despesa total da Previdência.
Os gargalos estariam
nas concessões de benefícios assistenciais e nos seguros. Para garantir que a
Previdência (tempo de contribuição) e as pensões por morte não mais
pressionassem as finanças públicas, este núcleo de despesas - que denominamos
Departamento 1 - passaria a ser anualmente avaliado, com métodos atuariais, com
o propósito de anunciar correções com antecipação de cinco anos. Esta proposta,
portanto, não oferece valores paramétricos permanentes sobre alíquotas ou
idade, mas implanta a flexibilização destes instrumentos, que passam a depender
da evolução da arrecadação, da formalização da mão de obra e da dinâmica do
sistema tributário em resposta às mudanças das relações de trabalho e aos
avanços tecnológicos.
Se tirássemos as
pensões por morte do Departamento 1 acima referido, somando-as aos seguros de
invalidez e ao auxílio doença, na forma de um seguro de vida autêntico, seria
possível redução significativa na contribuição patronal, hoje de 20% sobre a
folha de salários. A contribuição poderia cair para 10 pontos de percentagem.
Os prêmios dos seguros seriam pagos pelos beneficiários, cabendo -
eventualmente - subsídio do Estado às pessoas mais pobres.
VALOR ECONÔMICO