A internacionalização
dos fundos de pensão brasileira foi freada ainda no ensaio. As carteiras que
aplicam no exterior, cuja oferta multiplicou-se no ano passado, entregaram
retornos fartos, que chegam a 50%, com um empurrão da valorização do dólar. O
discurso de diversificação estrutural da carteira, entretanto, perdeu força
neste fim de ano diante do crescimento dos prêmios das NTN-Bs, papéis atrelados
à inflação, e do grande movimento de desvalorização e volatilidade do real. Fundos
de pensão, que por regulamentação não podem superar os 10% em aplicações fora
do país, abandonaram planos de diversificar no exterior ou até embolsaram os
ganhos.
"Quem entra com o
dólar a R$ 2,35 e consegue sair a R$ 4 teve um ótimo resultado. Já realizei
tudo", diz Letícia Ataíde, diretora de investimentos do fundo de pensão da
Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). As aplicações no
exterior, que tinham sido feitas no ano passado, foram trocadas por NTN-Bs. A
justificativa é a necessidade de bater a meta atuarial, ganho mínimo perseguido
pelos fundos de pensão.
O entendimento de que as
bolsas estrangeiras tinham alcançado as máximas históricas foi o que fez
Dermeval Lima Filho, diretor financeiro da Fabasa, fundação dos funcionários da
Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa), adiar o plano de investir fora.
A política de investimentos autoriza a alocação de 5% no exterior, mas ainda
não há nada aplicado.
A Celos, fundo de pensão
dos funcionários das Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc), incluiu um
limite de 1% aplicado fora na política de investimento em 2014, mas também
voltou atrás. "Íamos entrar em um fundo global de renda variável com 0,5%
do patrimônio em 2015, só que o ano começou, o juro aumentou, e não colocamos
ainda", diz o gerente de investimentos, Marcos Cunha.
Letícia, Lima Filho e
Cunha participaram no fim de outubro com mais cinco diretores, analistas e
consultores de fundos de pensão brasileiros de um evento organizado pela XP em
Londres. Os convidados tiveram hospedagem, transporte e refeições pagas no
programa que incluiu a provedora de índices MSCI, a gestora MFS e a plataforma
de fundos Allfunds.
A XP já tinha feito um
evento semelhante com fundos de pensão em março em Nova York. Até agora, entretanto,
o fundo de ações globais, uma seleção de 11 grandes casas - como Aberdeen, MFS,
AB e BlackRock - não captou recursos. Está com R$ 17 milhões de "seed
money", ou seja, dinheiro da própria casa. O recurso tem sido usado por
casas globais para dar um empurrão às aplicações fora. Pela regulamentação, os
fundos de pensão brasileiros não podem ter mais de 25% do patrimônio do fundo
local que aplica na carteira no exterior. Sem o "seed money", um
fundo de pensão teria que esperar outros três para alocar.
"Acho que isso que
estamos fazendo não é para agora", diz Patricia Stille, gestora do fundo
de fundos da XP. Para ela, a gestora precisa construir um histórico de retorno
na carteira que aplica fora para estar pronta a receber investidores quando a
demanda ganhar força. "É um processo de educação que está começando
agora", diz, ao considerar que o alto prêmio das NTN-Bs e o estresse do
câmbio atrapalharam a captação.
No caso da BB DTVM,
pioneira ao lançar quatro fundos que investem em gestoras de fora em 2013 - da
BlackRock, Franklin Templeton, Schroder e J.P. Morgan - a captação se
concentrou em 2014.
O fundo da BlackRock, cujo valor aplicado ultrapassou R$ 350 milhões em
outubro do ano passado e chegou ao pico de 22 cotistas em janeiro, caiu a 19
investidores e R$ 218,54 milhões de valor aplicado um ano depois. Os retornos
foram fartos - 16% em 2014 e 50% neste ano até o momento - o que impediu a
queda de patrimônio.
Valor