Desarticulação do
governo fragiliza confiança, o que inibe investimentos e geração de empregos.
Passado o primeiro
trimestre do ano, o setor empresarial abandona a expectativa de viver uma retomada vibrante em seus negócios ainda em
2019. Sedimenta-se a certeza de que o crescimento vai ficar para 2020,
principalmente no setor industrial.
A avaliação é que
nem a aprovação da reforma da Previdência conseguiria mudar o
cenário a esta altura.
Parte da projeção
leva em consideração que a confiança, já frágil,
sofreu novo golpe com a desarticulação política do governo no início de
mandato. A troca de farpas entre o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o presidente da Câmara,
Rodrigo Maia (DEM-RJ), agravou a sensação de instabilidade política.
“Quando acontecem fatos beligerantes entre
Executivo e Legislativo, o povo tira o pé do acelerador, para não dizer que
botou o pé no freio”, afirma o presidente da CBIC (Câmara Brasileira da
Indústria da Construção), José Carlos Martins.
A leitura é que houve perda de tempo. Daqui para a
frente será preciso esperar ações concretas para que os novos investimentos
sejam desengavetados.
“Desanuviando esse
ambiente pesado que nós estamos vivendo hoje e avançando a reforma da
Previdência, haverá mais confiança, o que puxa investimentos. Mas não vai ter
um boom de investimentos agora. Em termos práticos, isso ficaria para 2020”,
afirma Pimentel.
No caso da
indústria, o movimento de retomada também precisa superar uma limitação
operacional: a grande capacidade ociosa nas linhas de produção.
Segundo dados da
FGV (Fundação Getulio Vargas), a ociosidade média da indústria brasileira está
na casa de 26% —patamar muito elevado.
Fernando
Figueiredo, presidente-executivo da Abiquim (Associação Brasileira da Indústria
Química), conta que, no ano passado, a capacidade ociosa nas empresas do setor
foi de 23%, o que não abre espaço para investimentos.
“A previsão de
investimentos da indústria química do Brasil até 2022 é de US$ 1 bilhão [cerca
de R$ 3,9 bilhões]. É o mesmo que você escrever investimento zero”, diz
Figueiredo.
FOLHA DE SÃO PAULO