"Diante da
fragilidade das políticas públicas que se observa no Brasil, como acontece na
saúde, é até surpreendente que a longevidade continue se estendendo ",
disse Alexandre Kalache, um nome que é referência entre os gerontólogos
no País, entrevistado na 2ª feira a noite pelo programa "Roda
Viva", da TV CULTURA.
Ele também fez o
grande público conhecer o termo "ageísmo", que ao misturar inglês e
português traduz o que seria o preconceito contra o idoso, que segundo ele
ainda seria visto como um fardo, um peso a carregar que onera as famílias, os
planos de saúde e o Estado. Revelou os resultados de pesquisa recente da Organização
Mundial de Saúde (OMS), onde 60% dos idosos ouvidos disseram já terem sido
vítimas de algum episódio de preconceito.
Embora as mulheres
sejam apontadas pelas estatísticas como beneficiárias de anos suplementares de
vida, ao redor de 7 anos a mais em comparação com os homens, elas na verdade
não se beneficiam na prática, por sofrerem mais com doenças crônicas e
limitações físicas.
Diabetes do tipo 2 e
pressão alta também estariam cada vez mais tirando a qualidade do
viver nos anos adicionados à vida dos idosos.
A longevidade avança
rápido. O rápido envelhecimento populacional no Brasil vai ganhar mais
fôlego na próxima década, mudando a estrutura etária de localidades onde ainda
há maior predomínio de jovens em comparação à média do país. Segundo cálculos
da Instituição Fiscal Independente (IFI), o número de pessoas em idade ativa
(de 15 a 64 anos) para cada idoso vai cair mais de 25% no Norte e no Nordeste
de 2020 a 2030, enquanto, no Centro-Oeste, a retração será superior a 30%. Essa
trajetória vai elevar o grau de dependência de quem gera renda e impor mais
dificuldades na gestão orçamentária dos Estados.
Além de indicarem
alta das despesas com Previdência, que já consome quase 40% da folha de
pagamento na média dos governos estaduais, as estimativas apontam que a
alocação de recursos públicos vai ficar mais ineficiente, porque os Estados
precisam gastar mais com educação do que com saúde devido a vinculações
constitucionais.
Dentro de dez anos, o
contingente de pessoas em idade economicamente ativa vai encolher mais em todas
as regiões. O recuo mais forte será no Sul, onde o número de pessoas em idade
para trabalhar por idoso vai diminuir 32,7% entre 2020 e 2030, para 4,1. Em
igual comparação, a queda será de 30,7% no Sudeste, região em que estão três
dos entes federados com população mais velha do país: Rio de Janeiro, São Paulo
e Minas Gerais. Entre eles, apenas São Paulo não está em colapso fiscal. Os
outros dois Estados já têm déficit nas finanças públicas.
Por outro lado, a
inflação do idoso encerrou 2018 no maior patamar em dois anos, pressionada por
aumentos nos preços de alimentos e de medicamentos, segundo o Índice de Preços
ao Consumidor da Terceira Idade (IPC-3i), medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV).
O indicador, que
apura impacto de preços em famílias compostas por indivíduos com mais de 60
anos, teve alta de 4,75%, ante 3,80% no ano anterior e 6,07% em 2016.
VALOR ECONÔMICO