José Carlos
Doherty, superintendente-geral da Anbima, a partir da bem sucedida
experiência de sua própria entidade, artigo sobre um assunto que nos interessa
de perto, a autoregulação.
O Brasil desenvolveu,
nas últimas décadas, um mercado que figura entre os mais sofisticados do mundo.
Temos o 13º maior mercado de capitais, o 3º maior mercado de derivativos e a
11ª maior indústria de fundos. Não é só em tamanho que o mercado brasileiro se
destaca. A regulação e a autorregulação que definem os parâmetros de
desenvolvimento do mercado são reconhecidas internacionalmente: várias das
reformas disseminadas após a crise financeira de 2008 foram desnecessárias no
Brasil. Já contávamos com mecanismos que davam à indústria de fundos e ao
mercado de capitais maior segurança e estabilidade quando comparados aos dos
nossos pares internacionais.
E uma das
instituições estratégicas para esse desempenho é o modelo de autorregulação da
Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais
(Anbima), que completa 20 anos em dezembro. Sua consolidação e fortalecimento
são explicados por características singulares: é um modelo privado, ou seja,
criado pelo próprio mercado, de forma voluntária e independente das
instituições governamentais.
Esses 20 anos
marcaram a consolidação do modelo para o regulador e para o mercado. Muito foi
feito, mas ainda há muito por fazer. Tanto os reguladores quanto os
autorreguladores têm o desafio de monitorar e acompanhar um mercado complexo e
dinâmico. As inovações tecnológicas, que trazem novos atores para o mercado,
são um bom exemplo. A criação de mecanismos para promover o crescimento dos
negócios e proteger os investidores é necessária, mas requer cuidado para não
engessar ou inibir novas atividades. Equilibrar essa equação é essencial.
Outro desafio é a
transformação da autorregulação. As regras nasceram com foco na criação e
especificação de produtos e agora serão voltadas para exigências de conduta dos
profissionais. Esse movimento começou com a implementação das práticas de
suitability no início dos anos 2000 e foi intensificado com a crise de 2008.
Recentemente, as infrações mais identificadas no mercado global estão ligadas à
conduta e à ética. Esse novo mundo trará uma definição mais clara dos papéis e
das responsabilidades dos agentes, colocando o investidor no centro do mercado.
Esse direcionamento
já começou na Anbima. Em janeiro, dois códigos de autorregulação (Administração
de Recursos de Terceiros e Distribuição) entram em vigor com esse olhar. Ao
redor do mundo, há uma série de forçastarefas para a atualização e o reforço de
códigos de ética e de princípios de conduta. A mudança aumentará a complexidade
na atividade de supervisão, uma vez que exigirá maior esforço de interpretação
das regras
VALOR ECONÔMICO