QUEDA NA TAXA DE JUROS


Queda de juros para o consumidor pode ter chegado ao limite, dizem especialistas.

 

Sinalização diminui a possibilidade de redução nas taxas para o tomador de crédito ao longo de 2020.

A redução dos juros para o consumidor final pode estar chegando ao limite, afirmam especialistas.

Na avaliação de quem acompanha o setor financeiro, ainda que a inflação permaneça sob controle e abra espaço para o repasse da queda da Selic em linhas de curto prazo, a sinalização de que o ciclo de cortes da taxa básica possa estar no fim diminui a possibilidade de redução nas taxas para o tomador de crédito ao longo de 2020.

O professor da Saint Paul Escola de Negócios, Maurício Godoi, lembra que os grandes bancos têm feito reduções parciais das taxas de juros no crédito com a premissa de acompanhar as quedas da Selic promovidas pelo Banco Central.

“Mas é preciso ter em mente que a maioria das operações de crédito visa o médio e longo prazos e, quando olhamos as curvas futuras de juros, a Selic já se encontra em patamares mais elevados. 

Tudo isso entra na precificação desses empréstimos”, afirma.

Na quarta-feira (11), o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) divulgou que decidiu por um novo corte da Selic, de 5% para 4,5% ao ano

Pouco tempo após a decisão do BC, Caixa Econômica Federal e Itaú Unibanco informaram que reduziram taxas em linhas respectivas de crédito.

O Itaú afirmou que fez o repasse do corte de 0,5 ponto percentual para a linha de empréstimo pessoal para pessoas físicas e para a modalidade de capital de giro aos seus clientes corporativos.

Já a Caixa anunciou redução em três linhas de crédito. Em geral, a redução é maior conforme o cliente tem mais relacionamento com o banco, ou seja, contrata mais produtos. 

A taxa mínima fixa do crédito imobiliário da Caixa passou de 6,75% ao ano mais a TR (Taxa Referencial, hoje zerada) para 6,5% ao ano mais TR.

São três os fatores que colaboram para que novas quedas ocorram na ponta consumidora.

  • “Primeiro, é a pressão que o governo tem feito para incentivo à retomada do consumo e da economia, situação que passa um crédito mais acessível.
  • Segundo, que o spread [diferença entre a taxa de captação e a de empréstimos] dos bancos ainda é muito grande e tem muito espaço para recuar.
  • Terceiro, por fim, é a maior concorrência trazida pelas fintechs, que também começa a chamar a atenção”, disse Olivo.

Dados do Banco Central apontam que os spreads médios totais do mercado estavam em 19,2 pontos percentuais em outubro deste ano —no mesmo mês do ano passado, estavam em 17,9 pontos percentuais.

Segundo Godoi, a redução dos juros feita pela Caixa é uma das ações feitas pelo governo para aquecer a economia, que são eles: mercado de crédito, operações de open market (quando o BC compra ou vende títulos de dívida pública a bancos comerciais) e depósitos compulsórios.

“O problema é que esses instrumentos não estão funcionando no Brasil, e, aliás, foi por isso que o governo decidiu liberar o FGTS. Por isso a redução da Selic e os reflexos nos juros [da ponta consumidora] para incentivar a liberação do crédito”, disse.

Para ele, o que impede um repasse mais significativo das quedas dos juros é o fato de que o brasileiro tem dificuldade em tomar crédito.

“Muitos acabam usando linhas emergenciais e rotativos e entram em uma dívida surreal. Por isso também há um foco massivo em educação financeira. 

Enquanto o brasileiro não souber tomar crédito, é difícil reduzir muito mais os juros na ponta”, afirmou.



FOLHA DE SÃO PAULO
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