Brasil desperdiça vantagem demográfica


Pelas projeções mais recentes e consensuais para o crescimento econômico brasileiro, o país deixará de aproveitar o melhor momento de uma vantagem demográfica única em sua história para acelerar o desenvolvimento.


Com perspectiva de recessão neste ano e recuperação modesta nos próximos, a economia ainda terá de enfrentar, a partir dos anos 2020, a reversão do processo de crescimento da parcela da população em idade produtiva.


Chegará ao fim o período, iniciado nos anos 1990, de queda da proporção de dependentes --crianças e idosos-- na população, que cria maior folga potencial para a poupança e recursos para educação, saúde e infraestrutura.


Diversos países conseguiram aproveitar o chamado bônus demográfico para dar um salto de patamar. É o caso do Japão e de nações europeias, que alcançaram o status de economia desenvolvida a partir dessa janela.


O Brasil, apesar de avanços observados na redução da pobreza e na inclusão educacional nas últimas décadas, não sofreu uma transformação equivalente até o momento --e avanços adicionais serão limitados pelo fraco desempenho esperado da economia no momento demográfico mais favorável.


O FMI previu, neste mês, que o Brasil crescerá, até o fim desta década, apenas 1,8% ao ano, em média --a metade da década anterior. Economistas de mercado consultados pelo BC também preveem um crescimento médio nesse patamar até 2019.


Nesse cenário, o mercado de trabalho deve manter a marcha lenta, limitando na prática o aumento da parcela da população que sustentaria o crescimento.


"Se a economia não se recuperar, no restante da década o Brasil vai perder as últimas vantagens trazidas pela janela de oportunidade demográfica", diz o professor e especialista em estudos demográficos José Eustáquio Diniz Alves, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE.


A partir de 2023, a população produtiva deverá começar a cair no Brasil, refletindo o envelhecimento médio como resultado da maior longevidade.


Com isso, a contribuição da demografia para o crescimento passará a cair ano a ano, pressionando os gastos com saúde e aposentadorias. (Folha de S. Paulo)


Folha de S. Paulo
Tel: 11 5044-4774/11 5531-2118 | suporte@suporteconsult.com.br