Muita gente se
surpreendeu com o aumento da taxa de mortalidade infantil em 2016, após 26 anos
de queda. Da mesma forma causou espanto o fato de o país registrar em 2017 o
índice mais baixo de vacinação de crianças dos últimos 16
anos.
Mas para quem atua
na saúde pública ou acompanha de perto o impacto da recessão e do ajuste fiscal
nas políticas sociais, esses retrocessos já eram esperados. Vários alertas
foram feitos nos últimos dois anos.
Um recente estudo publicado na revista americana PLoS
Medicine foi além. Fez uma projeção muito bem embasada dando
conta de que o Brasil poderá ter até 20 mil mortes a mais de crianças nos
próximos 12 anos caso os cortes persistam nos programas Saúde da
Família e Bolsa Família.
Também não é
coincidência o fato de isso tudo acontecer no mesmo período em que 1,5 milhão
de brasileiros passaram a viver na pobreza extrema.
Segundo dados da
LCA Consultores divulgado pelo IBGE, havia no início de 2017 13,34
milhões de pessoas vivendo nessa condição. No final do mesmo ano, eram 14,83
milhões, o equivalente a 7,2% da população.
A próxima morte
anunciada deverá ser a do Brasil voltando a figurar no indesejado mapa da
fome da ONU (Organização das Nações Unidas), de onde saiu em 2014. O mapa
reúne países que têm mais de 5% da população ingerindo menos calorias do que o
recomendável.
Há um ano, um
relatório de 20 entidades da sociedade civil já alertava para esse risco caso o
governo brasileiro prosseguisse cortando verbas políticas sociais, como o Bolsa
Família.
Dados da Fundação
Abrinq apontam, inclusive, que a desnutrição infantil crônica
retornou aos níveis de 2013, com taxa de 13,1%. Somada aos casos de
desnutrição severa, o país tem 17,6% das crianças com problemas sérios de
nutrição.
Há evidências de
sobra de que "deu ruim", como diz o povo, e que é preciso encontrar
saídas urgentes para reverter esses indicadores alarmantes. Quais os caminhos?
Espero que os nossos presidenciáveis tenham essa resposta.
FOLHA DE SÃO PAULO