Do Japão à Coreia do Sul, da
China a alguns países do sudeste asiático, o envelhecimento das populações está
prestes a provocar transformações profundas nas sociedades, nas políticas
governamentais e nas estratégias empresariais..
Em 2065, Coreia do Sul deverá
se tornar o país desenvolvido com a população mais idosa. Na China, o governo
abandonou a política do filho único em 2016, mas parece ter sido muito pouco e
tarde demais. A taxa de nascimentos continuou caindo. O número de chineses
com idade entre 16 e 59 começou a cair em 2014, segundo a ONU. Em 2018, pela
primeira vez essa faixa ficou abaixo de 900 milhões de pessoas. Para piorar
esse cenário, a taxa de casamentos na China caiu pelo quarto ano seguido em
2017. O Japão está à frente nesse processo. Sua população entre 15 e 65
anos começou a cair em 1995, na mesma época em que o país entrava nas
"décadas perdidas" de deflação e estagnação. A população total está
em queda desde 2008.
As projeções de longo prazo
para os três países são ainda mais sombrias: de 2020 a 2060, a população
economicamente ativa (PEA) deverá encolher 30% no Japão, 26% na Coreia do Sul e
19% na China, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE). Essas estimativas se baseiam numa faixa etária ainda mais
ampla, dos 15 aos 74 anos. Os aposentados com 65 anos ou mais deverão ser mais
de 30% das populações desses países em 2060. Hong Kong, Cingapura e Tailândia
devem seguir trajetória similar. E há riscos reais para o crescimento da
economia desses países que envelhecem rápido. Estima-se que a taxa de
crescimento da China, já em desaceleração, será em média de 7,1% entre 2010 e
2020 e de apenas 1,5% entre 2040 e 2050. Ficaria abaixo da expansão prevista
para a Índia, de 3,7%, e os EUA, de 2%.
A queda no número de
consumidores restringe a economia e leva empresas a reduzir investimentos,
criando uma espiral descendente. de sua parte, Os jovens adultos
japoneses já estão empenhados em poupar, segundo mostram indicadores de
consumo. Nos últimos 30 anos, o índice de poupança subiu de 33% para 38%, na
faixa etária entre 25 e 29 anos, e de 38% para 44%, na de 30 a 34 anos, segundo
Ikuko Samikawa, professor da Universidade Hitotsubashi, em Tóquio. "Os jovens
tendem a poupar mais porque estão mais preocupados com seu futuro", disse
Hiroshi Nakaso, presidente do conselho do Instituto de Pesquisa Daiwa.
O fardo da previdência social
fica cada vez mais pesado, e o número de trabalhadores para carregá-lo é cada
vez menor. O Japão vem administrando isso acumulando dívidas, enquanto a Coreia
do Sul recorreu a uma dolorosa política de austeridade. O dia do ajuste de
contas, porém, se aproxima para ambos, enquanto na China o desafio parece ainda
mais complicado. No Japão, os gastos da previdência dispararam nos últimos 20
anos, obrigando o governo a captar mais para manter o sistema. A dívida pública
hoje é mais que o dobro do Produto Interno Bruto (PIB), o que faz do Japão o
país desenvolvido mais endividado.
Com o tempo, essas
circunstâncias vão restringir o poder de ação das autoridades econômicas. À
medida que a população encolhe, o crescimento desacelera, os investimentos
diminuem e o consumo cai, o resultado mais provável deverá ser o excesso de
poupança e uma acentuada queda nas taxas de juros. Com o crescimento travado em
torno de 1% e as taxas de juros de longo prazo perto de zero, será difícil para
o BC estimular o crescimento via corte nos juros.
Na Coreia do Sul, a dívida é
menor, mas há custos pesados para os aposentados. A taxa de pobreza entre os
sul-coreanos na faixa etária de 66 e 75 anos chegou a 39% em 2015, contra 17%
no Japão e 18% nos EUA. A proporção é ainda maior na faixa de 76 anos ou mais.
O ritmo do declínio
populacional do Japão está acelerando, com o país devendo perder o equivalente
a uma cidade de tamanho médio todos os anos num futuro previsível. A população
do país perdeu mais de 430 mil pessoas no ano passado, segundo novos números divulgados
pelo Ministério de Assuntos Internos. Isso foi parcialmente compensado por uma
entrada líquida de mais de 161 mil imigrantes, mas mesmo assim o ritmo geral do
declínio atingiu um novo patamar de -0,21%. Isso deixou a população em 126,4
milhões, em comparação ao pico de 128 milhões alcançado em 2010.
VALOR ECONÔMICO