Trabalhador do
setor do privado precisa poupar até R$ 8 mi para se aposentar como servidor.
Simulações ainda indicam que funcionário público
não juntaria o suficiente para ter o benefício atual
Um trabalhador do setor privado que quiser se
aposentar com R$ 39.200 mensais precisa ter acumulado pelo menos R$ 6 milhões,
se for homem, ou quase R$ 8 milhões, se for mulher.
Esse é o patrimônio extra que um trabalhador do setor privado terá de juntar a
fim de conseguir uma aposentadoria equivalente à de um ministro do Supremo, por
exemplo.
Com essa poupança financeira e recebendo uma aposentadoria pelo teto do INSS (R$
5.839,45), seria possível viver com R$ 39.200 por mês durante 20,5 anos
(expectativa de sobrevida para homens aos 60 anos) ou, no caso das mulheres,
por 28,3 anos (expectativa de vida aos 55 anos).
Esses valores dependem,
claro, do rendimento da aplicação em que os recursos estão investidos —da taxa
de juros. Neste caso, para simplificar, supôs-se a taxa dos títulos do governo
com vencimento em 2045, abatido o IR e descontada a inflação (cerca de 3,05% ao
ano). Todos os valores são em termos reais.
Quanto o servidor homem terá contribuído, no final da
carreira? Fazendo um cálculo exagerado, a favor do funcionário, suponha-se que ele
tenha recebido o salário máximo durante 35 anos de sua carreira, uma hipótese
improvável. Supõe-se também que a taxa de juros que corrige seu patrimônio seja
igual nos anos de contribuição e nos anos de aposentado. Este servidor
improvável teria acumulado R$ 3,655 milhões.
As
servidoras acumulariam ao final de 30 anos R$ 2,8 milhões, cerca de um terço do
custo de seus benefícios.
No funcionalismo, porém, os salários iniciais são
menores e o servidor vai sendo promovido até que se aposente. Quanto maior a
diferença entre os ganhos ao longo da carreira e o valor final que vai embasar
a aposentadoria, maior também a distância entre o quanto o funcionário
contribuiu e o custo da sua previdência, pondera o especialista em cálculos
previdenciários Newton Conde.
“Há casos
em que, perto do fim da carreira, o servidor recebe promoções mais altas ou
incorpora gratificações. Seu salário dá um pulo e sua aposentadoria também.”
Mas as aposentadorias
mais altas ainda pesarão na Previdência pública por vários anos: 90% dos atuais
servidores federais têm direito a integralidade e paridade.
A proposta
de reforma do governo Bolsonaro tentava conter essas despesas
estabelecendo que, para ter direito ao salário do último cargo, o servidor
teria que chegar aos 65 anos de idade, se homem, e 62 anos, se mulher (hoje
eles se aposentam aos 60 e 55, respectivamente).
Na comissão
especial da Câmara, porém, uma nova regra de transição reduziu essas idades.
Funcionários conseguirão o benefício mais alto a partir de 60 anos (boa parte
deles, portanto, não será afetada em relação à regra atual) e funcionárias, a
partir dos 57.
Além disso,
o novo texto manteve brecha para estender a
integralidade a policiais federais e agentes de segurança que ingressaram a
partir de 2004 —medida que já era prevista na proposta original do governo
Bolsonaro.
O peso
dessas aposentadorias também será prolongado pela exclusão de municípios e,
principalmente, estados da reforma em tramitação.
FOLHA DE SÃO PAULO