Mais
dívida, mais digitalização e menos globalização serão legados do coronavírus.
'Novo normal' deve trazer retrocesso
da integração produtiva através das fronteiras.
Três
traços da economia global no “novo normal” pós-epidemia já podem ser
antecipados. O primeiro é a elevação, em todo o mundo, de níveis de
endividamento público e privado.
Como
resultado do papel do setor público como seguradora final contra catástrofes,
as políticas para aplainar as curvas de pandemia e a recessão do coronavírus
deixarão um legado de dívidas maiores do setor público no mundo inteiro –como abordamos anteriormente.
Receitas
fiscais mais baixas e despesas sociais e de saúde mais altas vêm refletindo a
opção de tentar evitar a destruição generalizada de capacidade produtiva e de
sustento das pessoas durante a pandemia.
No lado do setor privado, o
endividamento deverá ser a forma de sobreviver à parada súbita, quando o
resultado não for a falência ou o fechamento.
O
ônus de atender a níveis mais altos de dívida pública será
mitigado, por um lado, pela continuidade esperada de baixas taxas de juros
básicas nos países mais avançados. No entanto, mesmo os governos com melhor
classificação de riscos de crédito terão que enfrentar o acúmulo de
dívidas.
E o estresse da dívida soberana provavelmente aumentará em muitos
outros casos.
Entre
as economias avançadas, a tendência nas últimas décadas tem sido a de reduzir o
imposto de renda corporativo e pessoal, e seu aumento é uma opção óbvia para
preencher a lacuna fiscal provocada pelo coronavírus.
As
tendências demográficas em andamento já apontavam para a necessidade de
encontrar novas maneiras de cobrir crescentes despesas públicas e a crise do
coronavírus acelerará essa busca.
No entanto, para evitar o solapamento desse
movimento por meio de guerras fiscais entre países, a consistência
plurinacional mediante cooperação tácita ou explícita será uma condição
necessária.ação de políticas
entre países em muitas áreas.
Lidar com futuras pandemias, mudança climática,
segurança cibernética, terrorismo, tendências migratória etc. exigirá mais
multi ou plurinacionalismo e menos nacionalismo, em direção inversa ao que
estava em curso e que foi acentuado pelo coronavírus.
FOLHA DE SÃO PAULO