MERCADO


Estratégia de Guedes de restringir gasto público divide economistas.

Enquanto Monica de Bolle defende revisão de teto de gastos contra crise, Zeina Latif diz que políticas de estímulo seriam um equívoco.

A estratégia do Ministério da Economia de manter restrições a investimentos públicos e apostar nas reformas econômicas neste momento de desaceleração econômica mundial divide os economistas do setor privado.

Para a economista Monica de Bolle, professora da Universidade Johns Hopkins, há chances de uma contração econômica no Brasil neste ano, e o governo precisa deixar a agenda de reformas em segundo plano e priorizar uma agenda de resposta à crise.

"A agenda de reformas continua sendo tão importante quanto antes. Ela só deixa de ser prioritária. 

Precisa haver agora um pensamento diferente: como evitar que a economia brasileira tenha uma recessão neste ano", afirma.

"O governo precisa ter uma agenda de resposta à crise, coisa que não tem, na qual o principal foco do gasto público é o investimento, principalmente em infraestrutura. 

O ministro Paulo Guedes não queria investimento em infraestrutura? É hora de fazer."

De Bolle defende a revisão da regra do teto de gastos, que tem limitado principalmente os investimentos do setor público.

Diz ainda que o Brasil fez uma redução expressiva da taxa de juros, que está próxima de zero em termos reais (descontada a inflação), o que permite ao governo aumentar gastos que impulsionem o crescimento econômico. 

"Com a taxa de juros real baixa, a gente ganhou um espaço na dívida pública que não tinha. Em momentos de crise, esse espaço é para ser usado."

A economista Zeina Latif, por outro lado, diz que seria um equívoco adotar políticas tradicionais de estímulo econômico, o que pode piorar a confiança no país, além de ter pouco efeito na recuperação da atividade. 

"Digamos que a gente tenha de tomar medidas mais sérias do lado da saúde. 

Se você não for responsável agora, quando realmente precisar desses recursos, corre o risco de não ter", afirma.

"Significaria rasgar o esforço fiscal e ainda comprometer recursos que podem ser necessários se essa epidemia atingir uma escala que a gente não está imaginando."

Ela afirma, no entanto, que os ruídos na relação entre Congresso e governo e as falas do ministro Guedes têm contribuído para a piora na percepção sobre o Brasil.

 "É um momento de seriedade, de mostrar harmonia entre Poderes. As falas do governo estão trazendo mais incertezas."



FOLHA DE SÃO PAULO
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