O
longo debate sobre a necessidade de uma reforma básica do sistema de
aposentadorias, num ambiente de pressão crescente do envelhecimento
populacional, evidencia o atraso do Brasil em políticas públicas para lidar com
a nova realidade demográfica.
Hoje, 14% da população é composta por idosos,
percentual que era de aproximadamente 10% em 2011 e vai a 20% em 12 anos,
aponta o especialista em envelhecimento Alexandre Kalache com base em projeções
do IBGE.
Por
todos os motivos recomendamos a leitura da notícia na íntegra.
Se o
aumento da população mais idosa, com uma parcela crescente de nonagenários e
centenários, é vista como conquista, é também objeto de preocupação de
especialistas, que, ao olharem os indicadores, afirmam categoricamente que o
país caminhou na direção oposta à ideal para nações longevas.
Questões que
deveriam estar em pauta não têm lugar na agenda econômica, caso das políticas
de emprego para pessoas com mais de 50 anos de idade.
Outros pontos são as
políticas de saúde e ainda de educação financeira, para que cidadãos elevem
suas poupanças a fim de viver até os 90 ou cem anos de maneira mais
confortável, o que evitaria um colapso no SUS e na assistência social.
Enquanto
isso, o país debateu por muito tempo como evitar que alguns se aposentem com
55, 50 anos ou até menos, devendo enfim aprovar uma reforma da Previdência.
Mas, diante do aumento da sobrevida, provavelmente haverá um número ainda
expressivo de brasileiros a receber proventos por tempo maior do que o de
contribuições - ou seja, um desequilíbrio crescente.
"Em 1980, a
expectativa de vida era de 62,5 anos, e, em 2016, passou a 75,8 anos. Ou seja,
a cada três anos do calendário, avançou pouco mais de um ano. A fecundidade
também caiu de forma contundente.
Mas não fizemos a reforma e gastamos 13% do
PIB com Previdência", observa o economista Marcelo Neri, diretor do
FGV Social.
"O
Japão, nação mais longeva do mundo, gasta 10%, embora tenha uma população com
mais de 65 anos 350% maior que a nossa. O agravante é que vamos multiplicar por
cinco nossa população de idosos nos próximos 50 anos", compara o
economista.
Levantamento
feito do setor de Previdência do Ministério da Economia mostra
que há atualmente 5.301 beneficiários com mais de cem anos de idade - sendo 1.906
homens, 3.394 mulheres e uma pessoa de sexo não definido.
Desse total, 1.237
homens foram aposentados por idade, e 669, por tempo de contribuição. Entre as
mulheres, 3.130 passaram para a inatividade por idade, e 264, por tempo de
contribuição.
"Em
1840, 10% dos franceses tinham mais de 60 anos, que só passaram a 20% no fim do
século 20, percorridos 145 anos. Vamos dobrar essa proporção em 19 anos, ciclo
que se completará em 2030.
É uma fração do tempo, apenas uma geração para dar
um salto que a França levou seis gerações para concluir", diz Kalache.
Para ele , a aposentadoria dos brasileiros é "precoce" e expressa as
desigualdades. "Pelo sistema atual, o brasileiro para de trabalhar, em
média, aos 55 anos de idade, com 25 a 30 anos de contribuição, a depender do
regime.
Isso favorece sobretudo aos que estão no topo da pirâmide
socioeconômica."
VALOR ECONÔMICO