Capitalização
transforma Hong Kong em caso de estudo sobre pobreza na velhice.
No território chinês, um terço das pessoas abaixo
da linha da pobreza são idosas
A Ásia envelhece a
passos rápidos. O número de pessoas com mais de 65 anos em Hong Kong deve
dobrar até 2036, representando mais de 30% da população.
O território
chinês tem uma das taxas de fertilidades mais baixas e uma das expectativas de
vida mais altas do mundo, ao lado do Japão e Singapura. Em média, mulheres
vivem 87 anos, enquanto homens chegam aos 81 anos.
Por aqui, vive-se
mais e pior.
Desde os anos
2000, o sistema de contribuição privada obrigatória para aposentadoria foi regulamentado.
Não há pensão
universal, idosos podem solicitar ajuda financeira, ter descontos e esperar por
alguns anos uma vaga em um asilo público.
Hoje, uma em cada
5 pessoas em Hong Kong vive abaixo da linha da pobreza, apesar de uma economia
que cresce e uma taxa de desemprego baixa. A miséria atinge em especial os
idosos.
Hong Kong é um
caso de estudo sobre pobreza na velhice.
Com o modelo de capitalização e proteção social insuficiente, um terço das
pessoas em situação precária são idosas.
A idade de aposentadoria para homens e
mulheres é 65 anos, mas poucos podem parar de trabalhar. Eles são porteiros,
catadores de papel, profissionais de limpeza, vendedores e taxistas.
Grande parte precisa ainda assim viver com a família, como manda a tradição
chinesa. Prática que tem se tornado cada vez mais insustentável devido ao alto
custo de vida do território.
O auxílio do
governo, menos de R$ 1.970 (HK$ 4.000) por mês, é insuficiente para pagar um
aluguel na cidade com o mercado imobiliário mais caro do mundo —mal paga
transporte, alimentação e remédios.
A
esse cenário de descaso e abandono, soma-se um limitado acesso a serviços de
saúde mental. A taxa de suicídio entre os idosos é o dobro da registrada em
qualquer outra faixa etária, de acordo com dados do Centro de Pesquisa e
Prevenção ao Suicídio, da Universidade de Hong Kong.
O governo se defende das estatísticas dizendo que o relatório sobre a pobreza
no território (Hong Kong Poverty Situation report) leva em conta renda e não
bens.
A solução paliativa
defendida pelo governo é encorajar que aposentados se mudem para a China
continental, onde o custo de vida e expressivamente menor. O território tem
acordo com províncias chinesas vizinhas para que idosos possam receber
benefícios do outro lado da fronteira.
Tida como modelo do neoliberalismo, o paraíso fiscal hoje gasta em proteção
social praticamente o dobro do que gastava em 2009. O desafio demográfico, que
também é uma realidade na China continental e em outros países asiáticos, gera
pressão sobre o sistema de saúde e faz proliferar asilos privados.
A necessidade de expansão de benefícios sociais para combater a alarmante taxa
de desigualdade social e para garantir condições dignas na velhice vem sendo
debatida em Hong Kong.
Porém, na última
consulta sobre uma reforma da Previdência, o modelo de aposentadoria universal
foi novamente descartado.
FOLHA DE SÃO PAULO