Instabilidade econômica e política no país afeta fundos de renda fixa


Oscilações nos rendimentos são esperadas e investidor não deve retirar aplicações, dizem analistas.

Investidores se assustaram ao abrir seus últimos extratos de fundos de renda fixa e se depararem com rentabilidades até negativas.

O retorno de fundos com prazo maior e grau de investimento (menos arriscados), por exemplo, foi de 1,42% em janeiro para -0,13% em maio, dado mais recente consolidado pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) —já descontado o IR no caso de rentabilidade positiva. No mês, até o dia 19, o rendimento foi de 0,289%.

Em meio à maior percepção de risco no país, com incertezas no cenário político e econômico nacional e instabilidades geopolíticas e comerciais no exterior, o mercado passou a esperar que a Selic (taxa básica de juros) suba antes do esperado.

Na duas últimas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária), em maio e junho, ela foi mantida em 6,5% ao ano.

Em 15 de maio, um dia antes de o Banco Central interromper o ciclo de cortes na Selic, os juros com vencimento em janeiro de 2021 estavam em 8,47%. Nesta sexta-feira (22), fecharam a 9,74%.

“Fundos que têm rentabilidade atrelada a CDI [Certificado de Depósito Interfinanceiro] ou Selic, na prática, mantêm a trajetória com pouca variação mesmo em um cenário de maior volatilidade. O impacto maior é observado em fundos com ativos atrelados a inflação e juros na sua composição, como títulos NTN-B [Tesouro IPCA+ com juros semestrais]”, diz Carlos André, vice-presidente Anbima.

Carteiras que investem em títulos prefixados (rentabilidade definida no momento da aplicação) podem registrar perdas se os juros futuros sobem. E, assim como no Tesouro Direto, os fundos são marcados a mercado, ou seja, o preço registrado no extrato que o investidor consulta reflete o valor do ativo naquele momento se ele fosse vendido.

Em um título comprado a taxa de 9,63%, por exemplo, se os juros subirem para 11%, o papel passa a valer menos, porque 11% é a nova taxa que o investidor espera do ativo. Quem comprou o título a 9,63% e quiser vender vai ter de fazer por um preço menor, para que a taxa chegue aos 11% estimados.

É como fazer compra no shopping, quanto maior o desconto, menor o preço da mercadoria”, explica Marcia Dessen, diretora da Planejar (associação de planejadores financeiros) e colunista da Folha.

Além dos juros, influencia também no preço do papel o prazo de vencimento do título. Quanto mais longo ele for, maior será o impacto no valor, porque maior também é a incerteza sobre o desempenho daquele ativo no futuro.




FOLHA DE SÃO PAULO
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