Esquerda contra reforma da previdência: ignorância
ou cinismo.
A concentração da renda aumentou no Brasil segundo a FGV. É curioso como
muita gente se diz de esquerda e fala em combater a desigualdade, mas resiste à
reforma da previdência. Ou não sabe fazer conta ou é cínico.
No Brasil, os 10% mais ricos ganham cerca de 17,6 vezes mais que os 40%
mais pobres. Segundo a pesquisa IBRE/FGV, a crise aumentou esta diferença. O
sistema previdenciário, que deveria pelo menos atenuar o problema, constitui
fator adicional de concentração por três razões.
A primeira é a de que as melhores aposentadorias são pagas para as
faixas de renda mais altas e por períodos mais longos. Os 20% mais ricos
recebem 40% de gastos com previdência, enquanto os mais pobres ficam com 3,3%.
As pessoas com mais escolaridade e que ganham salários maiores se aposentam em
média aos 54 anos, enquanto os mais pobres tendem a se aposentar, em média, com
63 anos.
A segunda é a de que o sistema, tal como existe hoje, apresenta um
déficit crônico. Neste ano, deverá fechar com um rombo estimado de R$ 309
bilhões. Se nada for feito, este buraco vai aumentar nos próximos anos.
Ocorre que a diferença entre os benefícios e as contribuições é coberta
por impostos cobrados de forma injusta: os pobres contribuem proporcionalmente
mais do que os ricos. A cada ano, portanto, os pobres transferem renda para
financiar as aposentadorias dos ricos.
A terceira razão está associada à compressão dos gastos públicos pelo
crescimento dos benefícios previdenciários. Com o envelhecimento da população,
estes crescem mais rápido do que a produção e a arrecadação do governo.
Isso comprime a capacidade de gasto público com itens essenciais
para a distribuição de renda, como educação e saúde. O rico paga escola privada
cada vez mais cara. O pobre enfrenta a carência da escola pública, perpetuando
e aprofundando a desigualdade. As despesas previdenciárias alcançarão, em
2019, 53,4% dos gastos totais, contra 15,86% do total com saúde, educação e
segurança.
Quem se preocupa com a melhora da distribuição da renda no Brasil e se
dispõe a ver os números não pode ser contra a reforma da previdência. A não ser
que prefira a saída fácil de fazer coro com os privilegiados que recebem
aposentadorias generosas às custas da população.
blog do Gesner de Oliveira