No
acompanhamento mais recente do Banco Mundial, com dados de 2017, o Brasil tem
de longe o maior spread entre 57 países avaliados. O valor é ligeiramente
inferior à taxa de 2016 – 39,7%, mas permanece muito acima até de países
marcados por instabilidades sociais, políticas e econômicas.
Em
entrevista de ontem, o presidente da consultoria alemã Roland Berger – Antonio
Bernardo, é um crítico dos bancos no Brasil e do papel deles na preservação das
altas taxas de juros e de spread. Mesmo reconhecendo que o ambiente local é
adverso, o que exige que cobrem mais pelos empréstimos, ele afirma que as
instituições financeiras no país estão em posição confortável e não tem pressa
em fazer o dever de casa.
“Há
no Brasil uma concorrência soft entre os bancos, o que leva a enorme
desvantagem: gera ineficiências”.
“A
rentabilidade dos bancos brasileiros vem do spread excepcionalmente alto que
cobram. Nas análises que fizemos, identificamos que há mais de R$ 50 bilhões em
custos que poderiam ser cortados e estão sendo cobertos pelo spread.
Sobre
os Custos:
Estruturas
organizacionais pesadas, com gente demais, processos de middle e back-office
(áreas internas responsáveis por transações financeiras e obrigações
regulatórias) ultrapassados, excesso de agências. Há outro indicador
mundial para medir eficiência: despesas administrativas e com pessoal sobre o
ativo total (peso dos custos sobre os ativos).
Entre
os maiores bancos no Brasil, essa relação é de 3,5%. Na Europa, 1,5%, menos da
metade. Nos Estados Unidos, 2,5%.
Os
custos com inadimplência no Brasil são três ou quatro vezes maiores do que em
alguns países da Europa. Mas, no que se refere à inadimplência, pesam
diferentes fatores. Recuperação de garantias, por exemplo, é um indicador
importante. No Reino Unido e na Alemanha, a capacidade de execução de uma
garantia em caso de inadimplência supera 80%. No México, 70%.
Sabe
qual é a capacidade de recuperação no Brasil? Cerca de 16%. Pesa também a
questão do prazo: quanto mais tempo se leva para recuperar a garantia, mais
pressão vemos sobre a inadimplência. No Reino Unido, um ano, um ano e meio. No
Brasil, quatro anos.
FOLHA DE SÃO PAULO