Pague primeiro e compre depois


·         Você é como a maioria das pessoas, primeiro compra e depois se vira para pagar, acertei? Por vezes se assusta com a fatura do cartão de crédito, que teima em cobrar as compras feitas, percebe que gastou mais do que podia e fez compras das quais já se arrependeu. Estabelecer limite de gastos, parar de comprar quando o dinheiro acaba são hábitos que você ainda não incorporou.

Antigamente, quando todos os pagamentos eram feitos em dinheiro vivo e não havia outro meio de pagamento, era fácil controlar e limitar os gastos. Os tempos mudaram e hoje é possível comprar quase tudo sem dinheiro. Um pedacinho de plástico substituiu o dinheiro vivo e mudou dramaticamente nossos hábitos de consumo, o cartão de crédito. Com ele é possível comprar tudo, à vista, a prazo, em lojas físicas ou pela internet, aqui e no exterior. Uma maravilha! Ou não...

O cartão de crédito protagonizou uma inversão importante. O pagamento, antes simultâneo ao momento da compra, é adiado para uma data futura, parcelado mediante cobrança de juros extremamente altos. Tamanha facilidade foi, e ainda é, a perdição de muitos. Para os consumidores disciplinados, um meio de pagamento conveniente e organizador. Para os desorganizados, sem limites, uma armadilha.

O cartão pré-pago surge como um educador forçado. É importante dizer que não se trata de um cartão de crédito. Ninguém empresta dinheiro para o usuário do cartão. O limite do cartão é definido e pago, antecipadamente, pelo usuário. Pode ser uma excelente maneira de controlar os gastos e evitar o endividamento.

É um cartão recarregável, semelhante ao celular pré-pago, no qual você insere créditos e usa como os cartões tradicionais. Embora seja usado na função crédito, o valor total da compra é debitado do saldo na mesma hora.

Não é possível parcelar as compras. A quantia total da compra deve estar disponível no momento da transação.

Como não é possível gastar mais do que o limite estabelecido, a hipótese de ficar negativo está afastada. Quem estiver de fato disposto a organizar suas finanças pode encontrar no cartão pré-pago um aliado. Ele estará sempre lá para lembrar quanto você já gastou e que o dinheiro está acabando ou já acabou.

Sabemos que cerca de 50% da população brasileira não tem conta bancária, alguns porque não querem e muitos porque não têm acesso. O cartão pré-pago permite a inclusão dessas pessoas no mercado. Para ter um cartão pré-pago, não é necessário ter conta em banco, não precisa comprovar renda mínima nem comprovar bom histórico de pagamento de dívidas. Faz sentido, afinal, não se trata de operação de crédito, o dinheiro é do usuário. Basta ter um CPF ativo e dinheiro para abastecer o cartão.

Aprovo a ideia de o ex-usuário de cartão de crédito tradicional adotar o cartão pré-pago como instrumento de educação financeira, um limitador de gastos. Mas essa modalidade de cartão pode ser útil para outros perfis de usuário. Empresários podem pagar a seus funcionários e prestadores de serviço utilizando esse meio de pagamento. Presentear, entregar ao filho com a mesada do mês, carregar o valor das compras da casa no cartão do funcionário são alguns exemplos.

Não é de graça, esse disciplinador tem um custo. A tarifa de adesão na faixa de R$ 15 e a tarifa de recarga de R$ 2,50 podem ser isentadas dependendo do valor. A tarifa de gerenciamento, cerca de R$ 5,00, é cobrada mensalmente, independentemente do uso ou não do cartão. Se a recarga for feita por meio de transferência bancária, como DOC ou TED, adicione o custo desse serviço. Cada cartão define os custos e concede isenções de acordo com a política do produto.

O ideal é usar o cartão pelo tempo necessário para aprender a organizar e controlar seu orçamento. Depois do aprendizado, não é preciso manter o cartão. Quem tem conta bancária pode substituir o cartão pré-pago pelo cartão de débito, a custo zero. As pessoas que ainda não têm conta bancária podem abrir uma conta-poupança ou uma conta-corrente de serviços essenciais, ambas isentas de tarifas. Assim, poderão ingressar no mercado financeiro, porta de acesso ao crédito, que, usado de forma consciente, ajuda a construir patrimônio.

Marcia Dessen - planejadora financeira pessoal, diretora do Planejar e autora do livro 'Finanças Pessoais: o que Fazer com Meu Dinheiro'.

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