Descubra se você é um tidsoptimista


Descubra se você é um tidsoptimista

Os otimistas do tempo não são só atraso e tendem a ser mais criativos e inteligentes

O check-out do hotel é ao meio-dia. Às 11h45, a pessoa vai dar um mergulho no mar. "Só para se despedir", diz. É o seu último desejo, que ofusca a lógica de que o relógio não está nem aí para o fim das suas férias.

O encontro é às 20h. Às 19h55, saindo de casa e ajeitando o cabelo que deixou para arrumar no espelho do elevador, manda a clássica: "chegando".

A reunião é às 14h. São 13h40. Calcula: "Trânsito, 25 minutos, me troco em 5, dou tchau em 2, saio em 10... dá tranquilo."

filme começa às 20h. Às 19h30 senta para responder a um email, aproveita e responde a mais oito. Sai de casa às 20h e culpa o Waze por não ter chegado ao cinema às 20h.

Tem um voo às 10h. Decide sair às 8h10, confiante de que tudo vai colaborar: o Uber vai chegar em 2 minutos, os faróis abrirão em sincronia, não vai ter fila no check-in, o portão vai ser logo ali.

Se você é essa pessoa, minha total compreensão. Tamo junto. Fazemos parte do universo dos tidsoptimistas. 

O termo, que vem do sueco ("tid": tempo. "optimist": otimista), descreve o fenômeno psicológico que faz com que pessoas sejam excessivamente otimistas quanto ao tempo e acabem subestimando o tempo que cada tarefa exige. 

Acreditam, com convicção religiosa, que dá pra sair de casa às 8h12 e chegar pontualmente às 8h.

Vivemos no intervalo entre o ideal e o possível, na esperança de que o mundo vá se ajustar ao nosso ritmo. Acreditamos que "só" é uma unidade de tempo —e que temos total domínio sobre ela. "É só imprimir e sair." "É só pegar e ir." "É só escolher a roupa e ir." "É só um xixizinho e já vou."

Não é por má-fé: é por excesso de fé. Fé no contorcionismo do relógio, na elasticidade dos ponteiros, a mesma fé de quem tenta calçar sapato 35 num pé 37. E, veja bem, não é por falta de organização: temos listas, alarmes, calendários com cores. 

Ainda assim, somos vistos como irresponsáveis.

Mas, por que temos tanta dificuldade em mudar já que a impontualidade pode exasperar os outros? "Nascemos assim", diz Grace Pacie, membro do clube dos atrasados e autora de "Late! A Timebender's Guide to Why We Are Late and How We Can Change" (Atrasados! O guia do dobrador do tempo: por que sempre nos atrasamos e como mudar isso). 

Ela lembra que Carl Jung, em sua obra sobre tipos de personalidade, descreveu duas grandes tendências: os realistas sensoriais (mais atentos ao presente e aos detalhes concretos) e os intuitivos sonhadores (mais voltados para ideias e possibilidades). 

De um lado, os "cronometristas" (cuja afobação tanto nos irrita), que trabalham em ritmo constante, são programadíssimos e vivem adiantados, sem emoção. E, de outro, pessoas como nós, no flow, em permanente negociação com os minutos, vivendo perigosamente a cada compromisso.

Não nos julgue. Não é desídia: é o cérebro nos enganando quando nos diz que ainda dá tempo e nos faz ter uma percepção distorcida dele.

Nós, os otimistas do tempo, não somos só atraso. 

A ciência nos dá créditos: tidsoptimistas tendem a ser mais criativos e inteligentes. Somos movidos a adrenalina; trabalhar sob pressão nos estimula, nos excita, nos faz entregar o nosso melhor. 

Vemos o tempo como flexível e aproveitamos cada minuto que, para nós, tem 200 segundos.

Se você se identificou, boa notícia: ainda dá tempo de mudar. Mas não se afobe, você tem todo o tempo do mundo pra isso.

BECKY S. KORICH - advogada, escritora e dramaturga, é autora de 'Caos e Amor'

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