Quanto tempo seu dinheiro vai durar?

A reserva acumulada durante sua vida ativa será suficiente para bancar sua aposentadoria?


Elisa foi demitida da empresa em que trabalhou por mais de 20 anos. De acordo com a política da empresa, todos os funcionários que completam 65 anos de idade são desligados para dar espaço a uma nova geração de talentos.

Embora tenha uma formação acadêmica invejável e muita experiência, acumulada
durante sua vida profissional, Elisa sabe que terá dificuldade de se recolocar no mercado de trabalho. Como não pretende se desfazer do imóvel onde mora, sua preocupação agora é descobrir se o dinheiro que tem, acumulado durante sua vida ativa mais o que recebeu da empresa, é suficiente para bancar suas despesas enquanto viver.

Renda mensal: o primeiro passo de Elisa é definir o montante de dinheiro que precisa para manter seu padrão de vida atual. Sabe que a pensão por aposentadoria que receberá da Previdência Social não será suficiente e calculou que precisa de uma renda mensal complementar de R$ 5.000 por mês, ou R$ 60 mil por ano.

Tempo: é muito difícil estimar quanto tempo vamos viver. Para reduzir o risco de uma estimativa inadequada e considerando o histórico familiar de vidas longevas, Elisa estimou que viverá até os 95 anos. Assim, ela precisa que o dinheiro seja suficiente para bancar seus próximos 30 anos de vida, dos 65 aos 95 anos.

Juros: outra estimativa difícil, mas necessária para o cálculo que Elisa precisa fazer, é definir qual será a taxa média de juros dos próximos 30 anos. A recomendação é trabalhar com uma taxa de juros baixa, porque ela deve ser: 1) real, acima da inflação; e 2) líquida, depois de descontar custos e impostos. Assim, decidiu utilizar uma taxa de 2% ao ano.

Se a taxa surpreender positivamente e for maior, tanto melhor; Elisa terá mais dinheiro do que esperava. O inverso não pode acontecer --esperar por uma rentabilidade que não virá, comprometendo a qualidade de vida, ou, pior, o dinheiro acabar antes do tempo.

Definidas as três premissas essenciais, valor de sua renda complementar, o prazo e a taxa de juros, ela pode calcular se o dinheiro que tem vai durar o tempo que precisa. Matemática nunca foi o ponto forte de Elisa, então vamos ajudá-la com os números.

Se a taxa de juros real fosse zero, o cálculo seria uma simples operação de multiplicação: 30 anos x R$ 60 mil/ano = R$ 1,8 milhão.

Felizmente, para Elisa e para todos os que precisam acumular dinheiro para a aposentadoria, é razoável supor que haverá taxa de juros real na economia brasileira nos próximos anos, como historicamente tem havido. Assim, o dinheiro vai trabalhar e pagar juros, aumentando o valor da renda anual disponível e o tempo de duração do dinheiro.

Para calcular o capital que Elisa deveria ter hoje para conseguir uma renda anual de R$ 60 mil, durante 30 anos, faremos a seguinte entrada de dados em uma calculadora financeira: prazo (n) 30 anos; juros (i) 2%; saques anuais (PMT) R$ 60 mil. Ao pressionar a teclar PV (valor presente), a calculadora indicará o montante de R$ 1.343.787,00.

Essa simulação considera que o capital se esgota em 30 anos, quando Elisa completar 95 anos de idade. O risco dessa estratégia é errar na premissa do tempo e o dinheiro acabar com Elisa ainda viva. Além disso, não haverá excedente financeiro para transferir a herdeiros.

Se essa for a vontade de Elisa, sacar somente os juros e preservar o capital, os números mudam consideravelmente. O capital necessário para gerar renda de R$ 60 mil/ano, durante 30 anos, e ser preservado para os herdeiros, é R$ 3.000.000 (60 mil/0,02).

Existe uma maneira de evitar a possibilidade de uma sobrevida longa sem ter dinheiro: comprar um seguro de renda futura e transferir o risco para uma seguradora.

Não é barato, mas é a melhor alternativa para quem não deseja correr esse risco e, principalmente, para as pessoas indisciplinadas, que representam risco para si mesmas e podem gastar o dinheiro indiscriminadamente.

Marcia Dessen -  planejadora financeira pessoal, diretora do IBCPF (Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros) e autora do livro "Finanças Pessoais: o que fazer com meu dinheiro".

Fonte: jornal Folha de São Paulo 
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