Tecnologia patina ao tentar atingir idosos


Todos os dias recebo anúncios em minha caixa de entrada alardeando produtos de tecnologia para adultos mais velhos.

Um robô “revolucionário” para treinar o andar. Um aparelho de resposta de emergência para prever quedas. Um sistema de telefone residencial e tablet “que transforma o modo como os idosos mais velhos se comunicam com seus entes queridos”.

Diariamente, também, ouço histórias de como a tecnologia não satisfaz as expectativas dos idosos ou de seus familiares.

Ouço falar de idosos enfraquecidos que tiram seus pingentes de emergência (aparelhinhos pendurados no pescoço usados para chamar por ajuda em caso de necessidade) quando vão para a cama e então, quando vão ao banheiro no escuro, caem e não conseguem pedir socorro.

Ouço falar de um senhor de 90 anos que guardava na geladeira seu pingente, nunca usado.

Empreendedores se esforçam para desenvolver plataformas, aplicativos e aparelhos para ajudar adultos mais velhos a administrar sua saúde, viver independentemente e manter seus vínculos familiares e sociais.

Poderíamos descrever seus esforços como “silvertech” —tecnologia para grisalhos.

Stephen Johnston é co-fundador da Aging 2.0, que liga empresas de tecnologia ao setor de cuidados de idosos. De acordo com suas estimativas, nos últimos três anos 1.500 start-ups de silvertech surgiram no mundo.

Dois desenvolvedores intensificaram o interesse dos empreendedores americanos, disse Laurie Orlov, analista de negócios que escreve no blog “Aging in Place Technology Watch”.

Meses atrás uma start-up chamada Honor, que encontra cuidadores recomendados para adultos mais velhos, levantou US$ 20 milhões em capital de investimentos junto a investidores do Vale do Silício. “Isso deu a organizações de vários tipos a esperança de terem potencial de mercado”, disse Orlov.

Além disso, o Medicare, o seguro-saúde estatal americano, ampliou os tipos de monitoramento remoto cobertos. Para Orlov, com o tempo o monitoramento à distância passará a ser “a solução para manter as pessoas fora de emergências hospitalares e lares para idosos”.

O geriatra Ken Covinsky, da Universidade da Califórnia em San Francisco, é contatado com frequência por empreendedores do Vale do Silício com ideias grandiosas. Ele virou cético.

“É um esforço incrivelmente bem-intencionado”, ele disse. “Mas eles partem de premissas que não condizem com os problemas que nossos pacientes e suas famílias enfrentam.”

Por exemplo, os tecnólogos parecem fascinados com o monitoramento contínuo de idosos, usando sensores que transmitem informações sobre quando se levantam, saem de casa ou abrem a geladeira.

Deixando de lado a questão de se os idosos gostam desse monitoramento, Covinsky acha que a presença de um cuidador habilitado por uma ou duas horas por dia faria mais bem a eles.

“Eles não precisam necessariamente que alguém saiba quando eles abrem a porta da geladeira”, disse. “Precisam de alguém que lhes prepare ou leve uma boa refeição.”

O monitoramento remoto — da pressão arterial, por exemplo — também pode provocar problemas. Sempre ocorrem falhas, e “às vezes as iniciativas tomadas com base nesses dados levam a um excesso de tratamento que faz mais mal do que bem”, disse Covinsky.

O design terá um papel crucial na utilidade que os consumidores podem identificar nesses produtos. No entanto, com algumas exceções —o telefone Jitterbug, por exemplo—, muitos dos produtos criados até agora para idosos fracassaram.

Às vezes são complexos demais, difíceis para serem usados por pessoas com demência. Nem sempre a tecnologia traz a solução para um problema.

“Meu receio é que, se você faz a pessoa ter consciência o tempo todo de que pode adoecer, ela pare até de andar”, disse Covinsky.

Felizmente, os desenvolvedores estão começando a ouvir seus consumidores potenciais. “Muitas start-ups que querem mudar o mundo são comandadas por jovens de 25 anos que não sabem muita coisa sobre como é ter 85”, disse Johnston.

A Aging 2.0 convidou idosos para participar de comissões para avaliar ideias e levou empreendedores para asilos. “Surgiram insights realmente interessantes”, disse Johnston.

Para quem têm dificuldade em distinguir entre tecnologia útil ou não, o United Hospital Fund acaba de publicar o manual online “A Family Caregiver’s Guide to Electronic Organizers, Monitors, Sensors, and Apps”, que inclui questões a analisar antes de comprar produtos e serviços eletrônicos.

Provavelmente não há nada melhor que discutir com o usuário pretendido os produtos que se pretende adquirir. Mesmo que um idoso que mora sozinho não goste da ideia de um sistema de sensores, pode achar isso aceitável, se a alternativa for sair da casa onde vive há anos.

Paula Span – jornalista do New York Times

Fonte: suplemento NYT do jnornal FSP

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