Notas sobre a educação no 'mundo 4.0'


É assim que agregaremos nos mais variados programas de escola secundária e universitária a técnica e visão empreendedora que permitam a médicos, contadores, engenheiros, químicos abordar cada desafio com inovação.

Por isso, educação hoje é retomar sua etimologia em latim. Educar (educere) é liderar, extrair o melhor que cada um tem dentro de si. Ensinar é conduzir alguém a que possa construir, com seu próprio exercício de liberdade, sua "sina", seu destino. Educação é um meio para enfrentar uma época permeada por novas tecnologias; um "ar do tempo" de competição, incertezas e oportunidades.

Já venceu, nesse contexto, a validade de três velhos paradigmas:

A Quarta Revolução Industrial está a reclamar uma nova educação para o empreendedorismo. Torna-se cada vez mais estratégica a relação umbilical escola-empresa.

Essa proximidade conceitual, com a ênfase nos aspectos empreendedores, deve ser acompanhada da proximidade física, com a estruturação crescente de unidades educacionais em regiões geograficamente densas em empresas de base tecnológica, os chamados "clusters"

1) educação como ingresso seguro no mercado de trabalho. Com a desterritorialização, os home offices e a competição transfronteiriça, diplomas ou símbolos tradicionais não são necessariamente diferenciais;

2) educação como aprimoramento de uma carreira linear. As carreiras tornaram-se sinuosas, com superposição de profissões e disciplinas; aparecimento e desaparecimento de profissões. Processos rotinizáveis são "desumanizados" e substituídos por software. Diminuem tarefas cada vez mais monótonas. A previsibilidade dá lugar à criatividade;

3) educação como certeza de desenvolvimento de uma nação. A Argentina, que começou o século 20 como uma das quatro mais elevadas rendas per capita do mundo, União Soviética e Cuba destinaram grandes orçamentos (em porcentagem de seu PIB) à educação. Sem empreendedorismo e vasos comunicantes com empresas e o mercado, ficaram para trás na corrida pela prosperidade.

Mais do que nunca, educação no "mundo 4.0" se guia por três palavras-chave.

Pertinência: todo o conhecimento é válido, mas há uma hierarquia baseada nas necessidades de um país ou empresas.

Atualidade: é estonteante a velocidade com que conhecimentos emergem e outros se tornam obsoletos.

Aplicabilidade: não há incompatibilidade entre teoria e prática, mas o conhecimento teórico tem de visar a uma intervenção na realidade.

Surgem, portanto, quatro novos paradigmas:

O primeiro: educação é a forma de lidar com a transfiguração do mundo do trabalho, o que requer especializações do tipo "antes da curva" (que privilegia a tendência sobre a experiência; a lógica dos early-adopters, velozmente aliados a áreas de ponta).

O segundo: educação como convite à "Reinvenção Serial". Não se contentar com rotulações como "engenheiro", "administrador", "psicólogo". Saber que temos constantemente de nos reinventar.

O terceiro: educação como combustível ao empreendedorismo, seja de natureza criativa (com rupturas e inauguração de novos nichos) ou evolutiva (com aprimoramento de setores recém-criados ou já consolidados).

O quarto: educação como convite à emancipação, à liberdade de fazer escolhas; à lidar com a relação punições-recompensas das decisões soberanas, sem a mão-pesada de forças intervenientes.

Para enfrentar esses novos paradigmas, os parâmetros para a sociedade brasileira são:

·         Educação é uma tarefa de responsabilidade compartida entre indivíduo, família, empresa e governo

·         Métodos quantitativos são compulsórios, mesmo para as mais abstratas ciências humanas

·         Incutir desde a mais tenra idade uma forma "econômica" de pensar (introjetar a equação custo-benefício)

·         Conhecimento de culturas e civilizações estrangeiras

·         Alimentar o talento naquilo que não pode ser rotinizável

·         Aprender a aprender sozinho

Marcos Troyjo - economista, diplomata e cientista social, dirige o BRICLab da Universidade Columbia em NY, onde é professor-adjunto de relações internacionais e políticas públicas.

Fonte: coluna jornal FSP

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