Prioridades em tempo de crise econômica


Ontem de manhã fui tomar um café acompanhado de um legítimo pão de queijo mineiro (bom demais!) e encontrei um grande amigo. Começamos a conversar e ele se queixava das dificuldades para manter seu padrão de vida porque estava perdendo poder de compra com o aumento dos preços e a estagnação de seu salário.

Durante a conversa, algumas coisas me chamaram a atenção. Ele tem uma filha de 11 anos e está vivendo alguns desentendimentos com a esposa em relação à escola da filha. Por insistência dele, a família retirou a filha de uma escola particular e colocou-a em uma escola pública; a esposa não ficou plenamente satisfeita, pois entende que deve haver um esforço familiar maior em prol da boa educação da filha. Na verdade, a esposa parece estar indignada com outra coisa.

Meu amigo discorda da esposa e tem em mente que “escola é tudo a mesma coisa”, com apenas algumas diferenças nas instalações, que são mais "cheias de frescuras", como ele disse. E aqui o que mais me chamou a atenção: embora meu amigo defenda que sua filha deva estudar em uma escola pública para gerar economia de dinheiro, ele possui um carro usado cujo valor está em torno de R$ 50 mil. Entendeu agora por quê a esposa está brava?

Vamos fazer umas continhas rápidas?

  • Depreciação do carro de 10% ao ano: R$ 5 mil;
  • Seguro anual: R$ 2 mil;
  • Manutenção anual preventiva (revisões): R$ 1 mil;
  • Pequenos reparos durante o ano (meu amigo é ruim de volante, já “esfolou” o carro três vezes só em 2015, mas gosta do carro sempre perfeito e brilhando): R$ 1 mil;
  • Combustível (por ano): R$ 4 mil;
  • Lavagem: R$ 600,00.

Nessa amostra, entre depreciação e gastos, já temos R$ 13.600,00, ou R$ 1.150,00 por mês. Detalhe: aqui na região, a melhor escola para esta faixa etária custa cerca de R$ 750,00 por mês.

Contei este fato da vida real para gerar uma reflexão importante envolvendo nosso dinheiro. Atenção: não estou defendendo que meu amigo deva vender o carro e andar a pé com sua família e não acho errado ele ter o carrão dele ou a filha estudar em escolas públicas. Não se trata de julgamento de valores ou apontamento de falhas, não é esta a questão.

O ponto central para pensar aqui é outro: prioridades. O que realmente é relevante para você quando decide onde vai usar/investir seu suado dinheiro? Você e eu temos total liberdade para utilizarmos nossos recursos como desejamos, mas o importante é que experimentemos uma sensação de paz depois de tomarmos nossas decisões.

Chegamos a um momento crítico da leitura: no caso de decisões que envolvem a família, esta paz precisa ser experimentada por todos.

“Ok Navarro, mas qual é a sua opinião sobre isso? Ele deve vender o carro e andar a pé ou buscar um equilíbrio, trocando o carro por outro mais barato?”, sei que a questão ainda permanece na sua cabeça.

As pessoas sempre me perguntam se é certo ou errado comprar isso ou aquilo. Eu costumo dizer que não há certo e errado em finanças. Tudo depende de seus objetivos e de sua visão de curto, médio e longo prazo.

Não, eu não estou “em cima do muro”. A verdade é que só você sabe o que é importante para você. O carrão pode ser essencial para a alegria e completude do amigo, mas a filha recebendo a educação desejada pela esposa também deveria ser. O que é importante para um precisa ser respeitado pelo outro.

O cotidiano financeiro é bem simples: você pode fazer o que quiser com o seu dinheiro, mas precisa lidar com as consequências de suas decisões. Quando somos capazes de dedicar tempo e recursos para nossas prioridades, lidar com essa coisa de causa e efeito fica bem mais fácil e enriquecedor (em todos os sentidos).

Comece sua reflexão de hoje pensando nas coisas que são realmente importas para você, mas não se esqueça das prioridades de sua família. Juntos, vocês são mais fortes, e isso também é riqueza

Conrado Navarro - educador financeiro, MBA em Finanças, é Sócio-fundador do Dinheirama, autor dos livros "Dinheiro é um Santo Remédio" (Ed. Gente), “Vamos falar de dinheiro?” (Novatec) e "Dinheirama" (Blogbooks), autor do blog "Você Mais Rico" do Portal EXAME e colunista da Revista InfoMoney. 

 

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