Pesquisa mostra autocensura em nome da aceitação social


Sua timeline no Facebook parece sempre entupida de coisas. O Twitter tem novas mensagens a toda hora. As caixas de comentários de sites de notícias vivem abarrotadas. Todo mundo parece querer compartilhar sua opinião sobre qualquer assunto na internet, certo? Não necessariamente.

O Projeto de Internet do instituto Pew Research Center divulgou uma pesquisa – feita com 1.801 adultos norte-americanos – voltada à análise de comportamento dos indivíduos nas redes sociais e o resultado foi surpreendente. Aparentemente, todo mundo pensa bastante antes de publicar qualquer coisa nas redes sociais.

O estudo basicamente mostrou que um sujeito tende a não compartilhar um conteúdo na rede caso pense que seus seguidores discordarão de seu ponto de vista. O fato pode estar diretamente ligado ao temor da exclusão social.

“Uma das possíveis teorias [deste estudo] é que, quando as pessoas constatam a diversidade de opinião, elas não querem desafiar terceiros, ou aborrecê-los, sob o risco de perder uma amizade”, diz Keith Hampton, da Universidade de Rutgers, um dos autores da pesquisa.

Mídias tradicionais ainda vencem

O estudo também constatou que boa parte das pessoas ainda prefere receber informações via mídia tradicional. Um dos assuntos tratados diretamente na pesquisa foi o caso Snowden; 58% dos entrevistados disseram ter se informado sobre o fato através da TV ou rádio, enquanto apenas 15% disseram ter recebido informações via Facebook e 3% via Twitter.

Além disso, descobriu-se que, enquanto 86% dos entrevistados pretendiam discutir a história de Snowden no mundo real (com cônjuges, amigos, vizinhos ou colegas de trabalho), apenas 42% tinham pretensões de postar sobre o assunto nas mídias sociais. Os autores especulam que as redes sociais aumentem a conscientização sobre diferentes pontos de vista, tornando os usuários mais hesitantes na hora de expressar o que pensam. No entanto, os entrevistados não foram questionados sobre os motivos de suas atitudes, por isso não fica claro se existe de fato uma autocensura.

Espiral do silêncio

De acordo com Hampton, estas descobertas podem acrescentar discussões à chamada “Espiral do silêncio”, tópico da Teoria da Comunicação que diz que as pessoas com opinião minoritária são menos propensas a se expressar. No entanto, Hampton frisa que, neste estudo em especial, talvez as pessoas não se considerem necessariamente minoria; apenas admitam que exista certo desacordo dentro de seus círculos sociais.

Mas será que o fato de o Pew Internet Project ter abordado especificamente o caso Snowden pode ter deixado seus entrevistados receosos? Lee Rainie, diretor do instituto, acredita que não. Ele disse que as conclusões deste estudo estão em acordo com outras pesquisas do grupo sobre os efeitos das mídias sociais na comunicação, e reiterou que, quando o estudo foi realizado, o público em geral ainda sabia muito pouco sobre o alcance da vigilância do governo americano sobre as comunicações na internet.

Rainie crê que, na verdade, as pessoas estão apenas reproduzindo o comportamento da infância e da adolescência, onde a aceitação se mostra relevante para a sobrevivência social; como a supressão de uma opinião minoritária já existe na vida real, nada mais natural que ela seja estendida à vida online.

Fonte: Edição de Leticia Nunes, com informações de Chris Ip [“News on social mediasuffers a ‘spiral of silence’: Pew study“, Columbia Journalism Review, 26/8/14]; e de Hayley Tsukayama [“People are more likelyto self-censor — on and offline — if others online disagree with them“, The Washington Post, 26/8/14]

Tradução: Fernanda Lizardo

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