Exemplo real das
dimensões do serviço
Quero aproveitar a oportunidade de estar escrevendo
sobre as dimensões dos serviços, para relatar uma experiência recente que se
passou comigo.
Eu sou aposentado pelo INSS e como outros milhões de brasileiros
também fui ‘roubado’ por uma entidade sindical. Todo o acesso para obter a
devolução do meu dinheiro, segundo as recomendações do próprio governo dever
ser feito através do aplicativo “meu INSS”.
E assim procedi, numa primeira etapa
as coisas funcionaram bem, mas num segundo momento, onde buscava maiores
informações sobre um empréstimo consignado suspeito, que foi feito em meu nome,
a um determinado ponto do procedimento era solicitado o reconhecimento facial e
ele não completava.
Creio que tentei mais de 50 veze, via celular. Resolvi
então, ir uma agência do INSS, para obter uma explicação e uma eventual ajuda
na solução do meu problema.
Fui à agência logo após o almoço, esperei cerca de
10’ na fila e percebi que as 6 pessoas que estavam na minha frente, estavam
tendo problemas relativamente semelhante, visto que saiam do balcão de
atendimento com seus celulares consultando o aplicativo.
O que também me chamou
a atenção é que todas elas eram pessoas idosas, provavelmente na casa dos 70
anos, como eu.Chegou a minha vez, relatei o meu problema para atendente.
Uma
jovem mulher, talvez com 30 anos, atenciosa e muito educada. Contudo, ela imprimiu
e me deu um documento que dizia que o problema só poderia ser resolvido
via sistema, no aplicativo meu INSS.
Insisti dizendo que já tinha feito tal procedimento
muitas vezes e que precisava de uma solução! Ela me disse que infelizmente não
tinha uma alternativa – que o problema era do sistema.
Perguntei se não teria
um funcionário que pudesse resolver o problema, novamente a resposta foi
negativa. Já irritado, comentei que ‘vocês não resolvem o nosso problema e não
dão alternativa!
Imediatamente ela retrucou – não somos nós
funcionários, é o sistema! Nós não temos culpa! Agradeci e fui embora.
Pensei este é um exemplo clássico das dimensões na prestação de serviços – O QUE e O COMO. Eu vou
publicar como exemplo.
Vamos lá, didaticamente vou explicar o episódio,
considerando as dimensões:
O
QUE eu queria? – queria que a
instituição resolvesse o meu problema, pois via aplicativo, remotamente não
consegui resolver?
COMO
eu queria? – queria, no processo de
atendimento, que eu fosse atendido com atenção e educação, que não demorasse
muito tempo na fila e que as explicações fossem claras e objetivas?
Estes eram os requisitos desejados por mim, ou a Qualidade Desejada. O
que de fato aconteceu é a chamada Qualidade Percebida, a seguir relatada.
Na dimensão do O QUE – o problema não foi
resolvido. Não havia uma alternativa a não ser via aplicativo.
Na dimensão do COMO – o atendimento foi
atencioso e educado, não demorei muito na fila, as explicações foram claras e
objetivas. Mas a reação da atendente frente ao meu comentário foi inapropriada.
Uma informação adicional sobre como me senti:
absolutamente incapaz frente a resposta da atendente – o problema é do sistema!
Deu a entender que ela também é absolutamente incapaz frente ao sistema da
empresa. Se ela não pode fazer nada, e transfere o problema para o cliente, o
que nós ‘simples clientes’ podemos fazer?
Lembrei que esta resposta era muito comum no meio bancário, nos idos dos
anos 1990, quando trabalhei com a implantação de Programas de Educação para a
Qualidade, onde ensinávamos que o Cliente não tem nada a ver com o sistema que
a empresa utiliza e, portanto, nunca deveria ser dada essa resposta.
É evidente que sistemas podem apresentar problemas,
mas é evidente também que são necessárias ações contingenciais para lidar com
situações como essa.
Hoje em dia com a evolução de sistemas operados por
Inteligência Artificial predomina uma falsa crença que tudo pode ser resolvido
por ela!
Vou além nas minhas questões: - o que e como fazer
para atender a população mais idosa que não está habilitada para lidar com
essas novas tecnologias?
E o que mais me chama atenção – um órgão público que tem o seus
clientes, na grande maioria, aposentados e, muito provavelmente, a maior parte
com idades acima de 60 anos e com pouca desenvoltura para lidar com a
tecnologia atual, não ter opções alternativas para acessar seus serviços.
Refletindo sobre o episódio, algumas outras
questões surgiram, tais como:
Ø Será que realmente a qualidade é um valor e uma
competência requerida pela organização?
Ø Será que seus funcionários foram
devidamente treinados para exercer o atendimento, considerando as dimensões dos
serviços?
Ø Será que a Direção da Empresa realmente está interessada com o
que os seus clientes pensam e avaliam os serviços prestados, dado que por ser
um órgão público, não há concorrência para a sua atividade e seu funcionamento
está estruturado em uma enorme e demorada burocracia? Principalmente, para
realizar reclamações e dar soluções as situações de não conformidades?
Finalizando, tenho quase a certeza, que você leitor
já passou por situação semelhante e se sentiu totalmente ignorado, compartilhe
nos comentários.
ANTONIO
ZUVELA - sócio da AZuvela Treinamento e
Desenvolvimento