Maradona e Pelé


Nesta altura do campeonato, todos já sabem que a Argentina é melhor do que o Brasil. Pelo menos chegou à final desta malfadada Copa de 2014. Mas será que Maradona é melhor do que Pelé?

A resposta certa para a pergunta (obviamente errada) é que até Messi é melhor do que Maradona. O que, porém, não quer dizer que Messi seja melhor do que Pelé.

As afirmações do parágrafo anterior, é prudente ressalvar, só valem para quem acredita e busca consolo na ciência da estatística. Esta, como se sabe, propicia a terceira e mais revoltante forma de mentira (as duas primeiras são as mentiras comuns e as mentiras deslavadas).

Retrospecto numérico não ganha jogo. Se ganhasse, o Brasil não teria perdido da Alemanha, nem tomado uma surra tão bem dada. O futebol é uma caixinha de Pandora.

Os cálculos de Nate Silver, mago americano das previsões eleitorais e esportivas do blog 538, davam 65% de favoritismo para a seleção no confronto com os alemães (errou feio, como em toda a Copa). O índice Soccer Power da ESPN atribuía 0,022% de probabilidade –um evento em 4.500– de a Alemanha marcar sete gols na partida.

O conglomerado ESPN é o proprietário do 538. Foi no blog que encontrei a mais objetiva análise da contenda Messi-Maradona-Pelé. Não pela mãos de Silver, e sim de Benjamin Morris, colaborador da página. Ele usou dados da empresa Opta Sports, que registra ao vivo cada lance de várias modalidades esportivas e com isso gera um imenso banco de dados estatísticos.

A Opta anota as jogadas em Copas do Mundo desde 1966, incluindo todas as de Messi e Maradona e duas de Pelé (1966 e 1970). Em separado, Morris considerou também partidas de Messi pelo Barcelona na Liga dos Campeões, que agrupou como Messi-B (para diferenciar do Messi da seleção, Messi-A).

O analista reconhece que não é a amostra ideal, pois são só oito jogos de Pelé. Messi-A tem 27 partidas contabilizadas, Messi-B conta com 42 e Maradona, com 21. Com tal disparidade, a comparação com Pelé fica prejudicada, avisa Morris.

O problema, para Maradona, é que Messi leva a melhor sobre o conterrâneo em quase tudo. Fez 0,83 gols por partida, somando A e B (ou 0,56 e 1, respectivamente). Maradona ficou em 0,38. Pelé? –0,63.

Morris, no entanto, usa critério diferente: soma os gols marcados com as assistências (passes que resultam em gols). Messi-A sai com 0,85 por partida e Messi-B, com 1,24. Maradona, coitado, amarga um 0,76. E o Rei sai coroado com 1,38, melhor até que Messi no time em que mais brilha, o Barcelona.

No quesito de dribles bem-sucedidos, os três jogadores são muito parecidos quando atuam pelas suas seleções: 55,6%, 55,9% e 55,3%. Na eficiência dos passes, contudo, Messi-B marca notáveis 64,2% e Messi-A, 58,7%. Maradona, lanterninha, registra 46,8%. Pelé chega mais perto de Messi-A, com 55,3%.

Resumo da ópera numerológica: Messi se sai muito melhor que Maradona; Maradona é bem menor que Pelé; não dá para tirar conclusão firme sobre o embate Messi-Pelé.

Nada que já não fosse conhecido de todos os brasileiros. Desconhecido, mesmo, era o placar de 7 a 1. 

Marcelo Leite – jornalista, repórter do jornal Folha de São Paulo, autor de livros.

Fonte: jornal Folha de São Paulo
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