Deficit de atenção desafia ciência cognitiva


Ao longo das últimas décadas, cientistas descobriram que pequenas alterações na maneira como as pessoas estudam podem acelerar e aprofundar o aprendizado, melhorando a retenção e compreensão de vários assuntos, como matemática, ciências e línguas estrangeiras.

Os resultados provinham quase inteiramente de experimentos laboratoriais controlados, envolvendo alunos individualmente, mas eram suficientemente confiáveis para que desenvolvedores de softwares, pesquisadores e outros se apressassem em levá-los a escolas, salas de reuniões e universidades — ou seja, a praticamente todos os ambientes. Apesar disso, as descobertas não foram trazidas aos que mais poderiam se beneficiar delas: pessoas com dificuldades de aprendizado.

Agora, dois novos estudos exploram a eficácia de uma técnica comum da ciência cognitiva, o chamado efeito teste, para pessoas com deficit de atenção.

Os resultados foram ambíguos. Eles sugerem, segundo especialistas, a promessa de driblar os deficit de aprendizagem com a ajuda da ciência cognitiva, mas também apontam para algumas dificuldades.

As técnicas de aprendizagem desenvolvidas por psicólogos cognitivos parecem, em alguns aspectos, facilmente aplicáveis a pessoas com deficit de atenção: dividir o tempo de estudo em períodos menores, misturar materiais correlatos em uma mesma sessão, variar os ambientes onde se estuda. Todos esses fatores podem resultar em melhorias na retenção ou compreensão da matéria e são capazes de capturar o espírito dispersivo das pessoas que sofrem do transtorno do deficit de atenção e hiperatividade (TDAH), especialmente crianças.

O efeito teste se mostrou confiável para os outros alunos, e trata-se de uma primeira opção natural para portadores do TDAH. O princípio é simples: uma vez que um aluno está familiarizado com um assunto, submeter-se a um teste por conta própria aprofunda a capacidade de rememorar a matéria, de forma mais eficiente do que simplesmente reestudando-a.

Em um novo estudo, liderado por Laura Knouse, da Universidade de Richmond (Virgínia), cem estudantes universitários, sendo 25 deles com TDAH, tentaram memorizar dois conjuntos de 48 palavras. Os alunos estudaram as listas de palavras em duas sessões, vendo como as palavras apareciam por alguns segundos em uma tela de computador. Em sessões de acompanhamento, eles reestudaram uma das listas e fizeram um teste para tentar recordar livremente a outra. Depois de dois dias, voltaram ao laboratório e foram submetidos a um exame envolvendo todas as palavras.

“Descobrimos que você se sai melhor quando se testa sozinho, em vez de estudar novamente, e que não importava se você tinha ou não TDAH”, disse Knouse.

O outro estudo chegou a uma conclusão completamente diferente. Psicólogos do Trinity College, em Hartford (Connecticut), reuniram 36 alunos, sendo metade deles com TDAH, para estudar dois artigos científicos curtos. Os alunos voltaram a estudar um dos artigos em outra sessão, e se testaram sozinhos a respeito do segundo artigo, digitando o máximo que conseguissem recordar da leitura.

Também eles voltaram ao laboratório para uma prova abrangente envolvendo os dois artigos. Só que desta vez não houve diferença no desempenho dos alunos com TDAH, apenas uma discreta melhora entre os alunos sem esse diagnóstico no que dizia respeito ao artigo abordado no “pré-teste”.

“No mínimo, para o grupo do TDAH, o fato de estudar de novo teve um resultado um pouco melhor”, disse Nicole Dudukovic, principal autora do estudo. A razão provável, segundo ela, era que os alunos com deficit de atenção não se lembravam de muita coisa da primeira sessão de estudo, e por isso o teste feito por conta própria não influenciava. “Também suspeitamos que haja algumas diferenças de pessoa para pessoa na forma como essa técnica funciona”, acrescentou Dudukovic.

Aí que está o problema, segundo especialistas. O TDAH se manifesta como um espectro de tipos diferentes — alguns mais hiperativos, outros mais distraídos. Há também os efeitos da medicação que muitos com TDAH utilizam, algo que nenhum dos estudos levou em conta.

Benedict Carey - repórter de ciência do The New York Times 

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