O
apelido do New York Times é The Gray Lady, algo como “A senhora
grisalha”. Talvez por isso a mais recente remodelação apresentada, na semana
passada (8/1), pelo site
do tradicional jornalão americano fundado em 1851 tenha chamado a atenção da
imprensa. A última vez que o diário reformulou integralmente sua versão online
foi em 2006, quando o iPhone ainda não estava no mercado e o iPad nem pensava
em nascer. Ou seja, em sete anos, muito mudou no mundo da tecnologia e na noção
de consumo de informação.
O
novo site foi concebido tendo o público de aparelhos móveis em mente, agora que
cerca de um terço de seu tráfego vem de usuários de smartphones e tablets. “Era
importante criarmos um layout interativo, que melhora a apresentação de nosso
conteúdo dos desktops maiores até os tablets”, diz Denise Warren,
vice-presidente executiva de serviços e produtos digitais do Times.
O
planejamento inicial para a reformulação começou em 2011 e envolveu um processo
de colaboração entre os vários departamentos do jornal. Segundo Denise, as
novidades no design são óbvias para os visitantes. “Remodelamos nossas páginas
de artigos e reestilizamos nossa homepage e seções principais a fim de oferecer
uma experiência mais atraente e um layout mais limpo ao usuário”, afirma ela.
Ao
mesmo tempo, a New York Times Company se preocupou em tentar não afastar os
leitores mais fiéis – aqueles que odeiam mudanças. Por isso, o novo design
vinha sendo testado internamente há algum tempo e foi sendo ajustado ao longo
do caminho. “Reconstruir toda a infraestrutura de um site, que é tão
bem-sucedida e tão grande como a nossa, é como mexer no motor enquanto se
pilota um avião, por isso queríamos fazê-lo com muito cuidado”, justifica
Denise.
“Estamos
concentrados em manter nossa identidade”, completa Ian Adelman, diretor de
design digital do Times. “É fato que existem elementos que ainda lembram
um pouco a versão em papel, mas eu realmente não penso tanto sobre isso quanto
penso na identidade [da marca] New York Times”.
Publicidade
nativa
O
novo sistema permite novos tipos de publicidade, o que é fundamental para
veículos como o Times, que vêm sofrendo queda na receita de publicidade
digital. No terceiro trimestre de 2013, o faturamento caiu 3,4% em relação ao
mesmo período do ano anterior.
O
novo layout apresenta grande abertura para a chamada “publicidade nativa”. São
os posts pagos, ou publieditoriais, que assemelham-se a artigos jornalísticos –
por isso são chamados “nativos” –, mas na verdade trazem a mensagem de
patrocinadores. Para distinguir os publieditoriais dos artigos jornalísticos de
verdade, eles são cercados por uma margem azul e precedidos por um aviso de que
são “pagos e postados por” empresas de fora. Os textos também são formatados em
fonte diferente.
O publisher
do Times, Arthur Sulzberger Jr., reconheceu em um memorando divulgado no
mês passado que os anúncios que se assemelham a artigos “podem ??ser
controversos” entre os jornalistas, mas disse que espera que “a publicidade
nativa desempenhe seu papel auxiliando a restaurar a receita de publicidade
digital rumo ao crescimento (…), algo que precisamos fazer para apoiar nosso
investimento no jornalismo do New York Times”.
Os
publieditoriais podem ser conferidos neste link.
Conquistar
leitores
Ao
mesmo tempo em que tenta melhorar sua receita na publicidade digital, o Times
ainda depende da venda de assinaturas. A esperança da empresa é que um site
mais rico seja capaz de manter os antigos assinantes satisfeitos, e também de
conquistar os novos. “Quanto mais os leitores se envolvem, encontrando um
artigo sobre um filme intrigante quando vieram para acompanhar as últimas
notícias sobre o Afeganistão, mais provável que renovem suas assinaturas e
aceitem reajustes anuais nestes valores”, diz o analista de mídia Ken Doctor,
autor do site Newsonomics.
A
necessidade de satisfazer a ambos, leitores e anunciantes, pode soar como uma
estratégia de mídia hermética, coisa de agência de notícias, mas a crescente
base de assinantes do Times indica que a experiência do usuário deve
continuar a ser o foco. Além disso, mais pessoas têm acessado o Times
online do que optado por sua edição impressa. O site recebe cerca de 1,6 milhão
de visitantes únicos por dia, ao passo que a circulação do jornal diário está
em torno de 730 mil exemplares.
“Tivemos
uma grande oportunidade de redimensionar um pouco a experiência
publicitária", diz Denise Warren. “A reação tem sido muito boa. Acho que
os anunciantes têm ficado satisfeitos com o que têm visto”.
Fonte: site
Observatório da Imprensa
Tradução: Fernanda Lizardo,
edição de Leticia Nunes. Informações
de Brian Stelter [“New York Times redesign points to future of online
publishing”, CNNMoney, 8/1/14] e de Jason Abbruzzese [“New York Times Website
Redesign Goes Back to the Future”, Mashable, 8/1/14]