Simples e rentável


O fundo simples chegou ao mercado prometendo ser uma aplicação simples, segura e de baixo custo. Será?

A poupança tem sido a primeira e principal escolha dos investidores, pequenos e grandes, que procuram um lugar seguro para investir dinheiro. A rentabilidade não é, nem de longe, a razão da escolha. A simplicidade parece explicar a preferência.

Mas, convenhamos, a remuneração da poupança não é simples. Ela tem um componente básico, a TR, e outro adicional, de 0,5% ao mês, enquanto a meta da taxa Selic for superior a 8,5% ao ano; ou 70% da Selic se igual ou inferior a 8,5%. E por falar em TR, alguém sabe o que é, como é calculada? Nem queira saber. O que sabemos é que, quanto maior a taxa de juros, acima de 8,5%, menor a rentabilidade da poupança em relação a outros produtos de investimento.

Outros depósitos bancários (CDB, LCI, LCA) atraíram alguns investidores, mas é preciso negociar a remuneração de cada depósito. Para investir no Tesouro Direto, é necessário abrir conta em uma corretora e escolher o título mais adequado, complexo demais para os que preferem ficar na poupança apesar da baixa rentabilidade.

Os fundos, outra opção de investimento, sofrem com o pagamento antecipado do Imposto de Renda e com a intensa regulação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários, autarquia que regula o mercado de capitais do Brasil), boa para proteger os investidores, mas onerosa, o que acaba tornando o produto caro para pequenos investidores.

A indústria de fundos quer atrair mais investidores e o governo federal, por sua vez, precisa ampliar a venda dos títulos públicos visando arrecadar dinheiro para financiar suas despesas. A CVM decidiu então regulamentar uma nova classe de fundo, o fundo simples, prevendo oferecer ao público investidor, além de simplicidade, um produto de baixo custo.

RISCOS

O dinheiro do investidor será destinado à compra de títulos públicos, considerados livres do risco de crédito, e títulos bancários de risco baixo, equivalente ao do governo. O fundo não poderá fazer investimentos especulativos e a expectativa é oferecer rentabilidade próxima à variação da taxa básica de juros da economia.

Como o fundo terá vários títulos, o risco de crédito será diluído pela diversificação da carteira. Ou seja, o dinheiro do investidor não estará em um único banco, como no caso dos depósitos bancários, mas distribuído em várias instituições financeiras, além de títulos do governo.

O fundo simples, assim como os demais fundos de investimento, não conta com a garantia do Fundo Garantidor de Créditos.

TAXA DE ADMINISTRAÇÃO

Para reduzir os custos operacionais, a comunicação entre o administrador do fundo e os cotistas será eletrônica. Aplicações e resgates serão feitos pela internet ou por canais de autoatendimento. Dessa forma, a expectativa é possibilitar um fundo com taxa de administração baixa, capaz de oferecer rentabilidade competitiva, excluídos custos e impostos.

Fique de olho e confira a taxa de administração antes de investir. Procure fundos com taxa de, no máximo, 1% ao ano. Para os grandes bancos, acostumados a cobrar taxa média superior a 3% ao ano, será desafiador abrir mão de receita tão generosa. Vamos ver como o mercado se comportará e se o produto chegará ao investidor final com baixo custo, como a CVM imaginou.

IMPOSTO DE RENDA

Sem novidades aqui, os rendimentos pagam Imposto de Renda semestralmente, pelo mecanismo de come-cotas. A alíquota varia de 22,5% (aplicações de até 180 dias) a 15% (aplicações acima de 720 dias). Quem calcula e recolhe o imposto é o administrador do fundo. Ao investidor, compete apenas informar, na declaração de ajuste anual, os rendimentos tributados exclusivamente na fonte. Simplificando, o investidor paga e o administrador faz o que tem de ser feito.

Como toda novidade, vale a pena conferir se o produto será, de fato, uma alternativa simples, de baixo custo, baixo risco e baixa complexidade, para atrair os conservadores investidores da poupança que merecem melhor rentabilidade. O futuro (próximo) dirá.

Marcia Dessen - planejadora financeira pessoal, diretora do IBCPF (Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros) e autora do livro "Finanças Pessoais: o que fazer com meu dinheiro" (Trevisan Editora, 2014)

Fonte: coluna no jornal FSP

 

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