Com 'bicadinhas', pai leva criança a consumo precoce de álcool


Um pouquinho de champanhe no Ano-Novo para comemorar? Uma “bicadinha” simbólica de vinho na Páscoa?

É comum que pais ofereçam pequenas quantidades de álcool às crianças nessas ocasiões. Parece inofensivo, mas uma pesquisa sugere que pode não ser.

Monika Wadolowski, epidemiologista na Universidade de New South Wales, na Austrália, é autora de um estudo publicado recentemente na revista “Pediatrics”: “Parents Who Supply Sips of Alcohol in Early Adolescence: A Prospective Study of Risk Factors.” [Pais que oferecem um pouco de álcool para adolescentes: um estudo prospectivo de fatores de risco].

O estudo analisou 1.729 alunos australianos do sétimo ano, com uma média de idade de 13 anos.

Monika foi atraída para o tema após ver algumas estatísticas que indicavam altas taxas de consumo precoce de álcool entre adolescentes, mas que não estabeleciam distinção entre as crianças que tinham “bicado” a bebida dos pais e as que tinham consumido um drinque inteiro.

Algumas pesquisas já tentaram rastrear como e quando ocorre a primeira experiência de uma criança com a bebida, “a transição entre abstinência e a degustação alcoólica”. Foi o caso de um estudo publicado em 2014 no periódico “Alcoholism: Clinical and Experimental Research”.

Os pesquisadores monitoraram 452 crianças do Estado da Pensilvânia e analisaram quais fatores poderiam indicar quais delas começariam a degustar álcool entre os 10 e 12 anos. As bicadinhas não estavam associadas ao tipo de comportamento que indicava problemas com a bebida em outros estudos. Em vez disso, tinham conexão com a aprovação dos pais à prática e às percepções infantis dessa atitude.

O principal autor do estudo, John E. Donovan, professor de psiquiatria na Universidade de Pittsburgh, disse que oferecer “bicadinhas” às crianças está relacionado à iniciação precoce no consumo de bebidas alcóolicas, um fator de risco para outros problemas de comportamento. Sua conclusão: “Os pais não devem fornecer álcool a seus filhos”.

A conexão entre a inserção precoce da bebida na vida e problemas alcoólicos mais graves foi explorada em um estudo de 2015, publicado em “Journal of Studies on Alcohol and Drugs”, que monitorou um grupo de crianças do início do sexto ano até o início do nono ano.

As crianças que tinham experimentado álcool antes do sexto ano — principalmente em casa, principalmente cerveja e vinho e principalmente oferecido por um dos pais — eram mais propensas a ter consumido um drinque completo ou ter ficado bêbadas no início do nono ano.

Os pais pensam que, ao oferecer álcool para as crianças, estão protegendo-as de problemas com a bebida. Os pais podem acreditar que estão incutindo um modelo e um modo saudável e festivo de encarar o álcool, consumido com moderação e em comemorações.

“O interessante foi descobrir que os pais que davam álcool aos filhos tinham boas práticas educativas e monitoravam os relacionamentos de seus filhos”, disse Monika.

O que contribuía para a decisão de oferecer um pouco de bebida? “A maior razão era acharem que os amigos de seus filhos estavam bebendo”, contou Monika.Então talvez eles estivessem deliberadamente tentando oferecer um modelo alternativo.

Monika acredita que ainda precisamos entender quais são os efeitos em longo prazo da prática e se isso está relacionado com a bebida compulsiva. “A pesquisa ainda é nova”, disse

 

Perri Klass – medico pediatra, escritor e professor de Jornalismo e Pediatria da New York University, e Diretor Clínico da Reach Out and Read.

Fonte: jornal New York Times

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