Leveza pode estar ligada ao simples e à forma como se lida com problemas

Diariamente eu recebo mensagens dos meus leitores da Folha comentando e sugerindo temas para as minhas colunas. Uma das sugestões mais interessantes foi a de uma psicóloga de 32 anos indignada com a preferência do marido pelas mulheres leves.

"Eu não aguento mais ouvir meu marido elogiando as mulheres leves. Ele diz que eu sou muito preocupada, estressada e nervosa. Todos os exemplos que ele dá são de mulheres que não trabalham e que são completamente alienadas da crise do país." 

Ela pediu para que eu escrevesse sobre a obrigação das mulheres serem leves.

"Lógico que eu gostaria de ser mais leve, rir mais, ter uma relação mais prazerosa. Se isso é ser leve, ótimo. Mas se ser leve é aquela pessoa sempre sorridente, que não se preocupa com nada, aí nunca vou ser leve. O que quer dizer ser leve? Que devo ser sempre alegrinha, divertida, superficial, submissa e aceitar tudo sem reclamar? Você precisa escrever sobre a ditadura da leveza."

Na minha pesquisa atual, um fotógrafo de 43 anos disse que a leveza está vinculada a uma vida mais simples.

"Não dá para querer ser leve e consumir compulsivamente. Quanto mais coisas nós temos, mais preocupação temos com elas. Quanto mais rica, mais dinheiro quer. Quanto mais roupas, mais achamos que não temos nada para vestir. O segredo de ser leve é ser simples. É ter e querer só o que é realmente essencial e significativo para a nossa felicidade. Mais nada!"

Uma médica de 52 anos afirmou que a leveza não é só um estado de espírito ou um aspecto da personalidade. Não é apenas ser mais divertida, alegre e bem-humorada. É, acima de tudo, uma atitude que se tem diante da vida, uma forma mais simples, equilibrada e saudável de lidar com as dificuldades, problemas e crises que são inevitáveis. 

Prometo retornar ao tema para responder à leitora: Será que dá para ser leve em momentos tão dramáticos? 

Mirian Goldenberg - antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio, é autora de "A Bela Velhice".

Fonte: coluna jornal FSP