Uma mente ansiosa cria cenários catastróficos e nunca descansa


Uma mente ansiosa cria cenários catastróficos e nunca descansa

  • É cansativo viver com medo do que ainda não existe
  • A cabeça inventa perigos com uma criatividade cruel

Uma mente ansiosa como a minha é capaz de criar cenários catastróficos quase todos os dias. E sempre que isso acontece é um tormento, sinto um medo imenso. 

Uma hora uma pessoa próxima morre; outra, eu mesma estou para morrer. Sem contar os dias em que tenho uma doença grave.

Basta eu ler sobre alguma enfermidade que já sinto todos os sintomas. Na semana passada, estava vendo televisão e começaram a falar de engasgos. 

Pensei que, por morar sozinha, poderia acontecer comigo e não haveria ninguém para me socorrer. Morreria sufocada. Tomei a decisão de só tomar líquidos.

Dois dias com uma dieta líquida e pastosa, e sem querer engasguei. Tossi muito pela sala, levantei os braços, fiquei alguns segundos com a sensação de sufocamento e depois passou. 

Não acreditei no que estava acontecendo. Me senti patética. Voltei a comer normal.

E essa ansiedade toda não é de hoje. Lembro que, quando bebia, não soltava a mão da garrafa. A outra mão segurava o copo (quando ainda tinha copo), tamanha era a vontade de beber mais e mais. Virava todas, e no dia seguinte nem tinha mais a lembrança do porre.

Movida pela ansiedade, não deixava faltar bebida nos lugares, comprava tudo em dobro, era exagerada. 

Quando ia viajar com minhas amigas, elas me falavam: "Alice, tudo isso? É só um final de semana". Então eu reparava que só eu estava levando álcool. Como se todas as refeições pudessem ser substituídas pela bebida. (Mas não é que em algum momento isso foi verdade?)

Na pandemia a ansiedade triplicou. Imagino que, se ainda estivesse na ativa, usaria o álcool para acalmar minha mente. Mas não, não bebia mais, e lia sobre o aumento de pessoas bebendo em casa todos os dias. 

Sabe que cheguei a ter inveja? Sentir tudo cansa muito. Porque a mente ansiosa não descansa. Mesmo quando o corpo parece calmo, ela está ali, a mil. Penso demais, sinto demais, antecipo o que nem aconteceu e provavelmente não vai acontecer.

É cansativo viver com medo do que ainda não existe. 

O coração acelera por qualquer coisa, a cabeça inventa perigos com uma criatividade cruel. Às vezes me pego exausta por ter passado o dia inteiro fugindo de cenários que só existiam dentro da minha mente. 

E, quando tento me acalmar, fico pensando que talvez esteja apenas ignorando um sinal, que talvez o medo tenha alguma base de verdade. A mente ansiosa transforma a dúvida em realidade. E, no meio disso tudo, eu só tento respirar.

O melhor que eu posso fazer é fracionar o dia, a semana, o mês. Quando penso que estou ansiosa só por aquele momento, que logo vai passar, me dá um alívio, me sinto menos sufocada. 

Outra coisa que me faz muito bem é ir a uma praça, andar com os pés descalços, tomar um banho frio e um copo de água com açúcar. Todos bons remédios para mim.

Quando eu era pequena, achava que era a única a ter esse sintoma, mas depois comecei a ler livros que falam comigo, ver tirinhas de internet que ilustram cenas que lembram meu jeito. Além, claro, de ter o apoio dos meus amigos de AA, que me fazem saber que não estou sozinha também nesta luta. Ainda bem.

ALICE S. – blog Vida de Alcoólatra


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