Comentário de Mercado Agosto de 2015


Várias vezes esse ano abri meu comentário dizendo que o mês tinha sido difícil.

Infelizmente terei que repetir a frase porque agosto foi mesmo muito difícil.

Peço desculpas também por um comentário mais longo, infelizmente não consegui ser sucinto.

 

O dólar teve mais uma forte alta de 7,45% acumulando uma valorização de 37,29% no ano e 62,83% nos últimos 12 meses e encerrou o mês cotado a R$3,65. O dólar turismo passou dos R$3,90 em algumas casas de câmbio.

A taxa de juros de curto prazo (SELIC) fecha o mês em 14,25% a.a.. O IRF-M, que mede a rentabilidade dos títulos públicos com juros pré-fixados, obteve uma rentabilidade de -0,85%, acumulando um ganho de 5,58% no ano. A rentabilidade dos títulos públicos indexados a inflação (NTN-B) de curto prazo (até 5 anos), medida pelo IMA-B5, foi de -0,47% no mês e acumula uma alta de 8,86% no ano. Já a de longo prazo, medido pelo IMA-B5+, teve um rendimento de -4,59% no mês, acumulando uma rentabilidade de 2,16% no ano. O IMA-S, que mede a rentabilidade dos títulos públicos federais pós fixados (SELIC), teve uma rentabilidade de 1,11% no mês e 8,38% no ano.

A rentabilidade média dos investimentos em ações, medido pelo IBOVESPA, ficou em -8,33%, acumulando uma queda de 6,76% no ano.

O quadro político nacional continua, e deve continuar, se deteriorando.

 

O Ministério Publico ofereceu denúncia contra Collor e Eduardo Cunha, os dois primeiros de uma lista possivelmente longa. O Ministro Marco Aurélio de Mello está pressionando o Ministério Publico e Policia Federal para investigar melhor os gastos de campanha da chapa da Presidente Dilma. O equilíbrio entre as forças dos três poderes está delicado.

A inabilidade do Governo em se articular politicamente continua evidente. O Vice-Presidente não responde mais pela articulação com o PMDB, e o abismo entre seu partido e o PT aumentou. Dentro do próprio PT o Governo encontra resistência. Nesse difícil quadro político a Presidente Dilma falou em cortar ministérios e aumentar arrecadação, mas nada de concreto foi feito até o momento. Sentimos o Governo Federal paralisado.

Do lado das contas públicas as noticias são as piores possíveis. O Governo continua gastando muito e arrecadando pouco. O buraco na conta do Governo Federal (diferença entre o que o Tesouro arrecada de impostos e o que é gasto) aumentou muito e não vemos nada que indique uma mudança nessa situação.

O ministro Levy tentou, sem sucesso, aumentar impostos. Tivemos, inclusive, rumores que Levy poderia ser substituído.

 

No dia 31 o Ministro do Planejamento enviou ao Congresso o orçamento de 2016 com uma expectativa de déficit de R$30 bilhões. Isso significa que o Governo Federal espera gastar R$30 bilhões a mais do que arrecadará, aumentando sua dívida. Acho que esse orçamento é a melhor fotografia da situação atual e da incapacidade da Presidente em gerenciar suas contas.

Janot foi reconduzido ao cargo de Procurador Geral da República. O julgamento da corrupção na Petrobrás está se aproximando do Supremo que terá que se manifestar publicamente sobre as acusações de políticos. Até agora os sinais vindo daquele Tribunal são de apoio a operação, como vimos na frustrada tentativa de anulação das provas geradas a partir da delação premiada de Alberto Yussef.

Os números da economia nacional são os pires de muito tempo. O PIB, que mede a produção do país, despenca e indica uma recessão profunda e duradoura, comprometendo 2016. O mercado espera uma queda no PIB para o próximo ano de mais de 0,5% e um desemprego chegando perto dos 12%.

 

Outros números da nossa economia são muito ruins. O consumo das famílias brasileiras, a produção industrial e o emprego caíram muito. Alguns desses números mostra um retrocesso de mais de 10 anos!

A inflação de agosto, apesar de positiva, deve vir bem abaixo da média do ano. Mas eu acredito que, infelizmente, essa alegria durará pouco. O dólar mais caro causará uma alta no preço de vários produtos, principalmente nos alimentos. Muitos produtos agrícolas, como soja, milho, trigo e café, têm seu preços estabelecido pelo mercado internacional. Um dólar mais caro encarece o preço de alimentos no país.

A situação só não é pior porque o preço internacional do petróleo continua caindo, aliviando a necessidade de aumento no preço dos combustíveis no país. Entretanto, eu não me espantaria se tivermos alta no preço da gasolina ainda esse ano.

O Governo continua com uma baixa aprovação do eleitorado, exposto (devido aos escândalos de corrupção) e sem apoio político, o que dificulta muito a implementação de qualquer mudança.

 

Além disso nossa situação atual impacta muito a imagem do país e já se fala bastante na possibilidade das agencias internacionais de classificação de risco rebaixarem a nossa nota. Se isso acontecer é possível vermos mais alta no dólar e queda na bolsa.

No campo internacional a China dominou o noticiário. Sua economia continua dando sinais de enfraquecimento causando queda no preço de metais, o que é ruim para o Brasil. O Governo desvalorizou sua moeda (o yuan) para incentivar exportações e a industrial local. O mercado de ações continuou apresentando pesadas perdas. No mês o índice da bolsa chinesa recuou 15,18% apesar dos esforços do Governo para evitar a queda.

A economia Norte Americana continua dando sinais de melhora. Tivemos queda no desemprego, aumento de gastos das famílias e crescimento. A desvalorização da moeda chinesa e a alta global no valor do dólar podem fazer com que o Banco Central Americano (FED) não aumente a taxa de juros esse ano numa tentativa de segurar mais valorização no dólar que pode frear o crescimento Norte Americano.

 

A Europa continua a cresce devagar. A inflação na zona do euro continua próximo de zero e já se fala em estender o programa de incentivo ao crescimento. Não esperamos nenhuma surpresa para as economias do bloco.

Quanto a seus investimentos eu continuo privilegio a renda fixa pós fixada (fundos DI e títulos indexados a SELIC). Entretanto, a taxa de juros das NTN-Bs (ou Tesouro IPCA+) subiram e estão acima de 7% ao ano mais a inflação, o que me parece muito atrativo. Se você tem uma poupança de longo prazo, aquela que você está seguro que não usará nos próximos anos, acho que é uma boa estratégia comprar um pouco desses títulos. Segundo dados no site do Tesouro Direto, em 31/08/2014 o Tesouro IPCA para 15/05/2019 oferecia uma rentabilidade próxima de 7,40% acima da inflação. O título para 15/08/2020 apresentava rentabilidade próxima de 7,30%. Se você não mexer no seu dinheiro até o vencimento (data indicada acima) esse investimento é um dos mais seguro.

 

É importante frisar que essas taxas podem subir mais (o preço da NTN-B cai) no caso do Brasil perder o “grau de investimento”. Se isso acontecer teremos a oportunidade de aumentar mais o investimento nesses títulos. Mas vale reforçar que nos níveis de hoje eu acho que já vale a pena comprar um pouco de Tesouro IPCA+.

Para a renda variável continuo com a opinião que o risco é muito grande e não compensa investir agora.

Conforme comentado no mês anterior, muitos economistas apontam que nossa moeda ainda tem que se desvalorizar mais para possibilitar a nossos produtos concorrerem com os de outros países. Portanto, eu aconselho a você continuar segurando seus investimentos em moeda americana. Se você tem muito investimento em dólar pode ser uma boa hora para começar a vender devagar.

Em resumo, nesse mês estamos mudando um pouco nossa recomendação. Resgate uma parte dos seus investimentos de longo prazo que estão aplicados a taxas de juros de curto prazo (CDI e SELIC) e invista um pouco no Tesouro IPCA+. Mantenha seus investimentos em dólar e continue fora da bolsa.

 

Lauro Araujoadministrador de empresas, trabalhou em consultorias nacionais e internacionais e em gestoras de recursos; é diretor da LAS consultoria financeira e atuarial.

 

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