Voltar à escola com um ensino tradicional ou renovado?


Pandemia traz a possibilidade de uma educação inovadora se houver boas políticas públicas.

Na quarta-feira (24/06), o governo do estado de São Paulo anunciou que a volta às aulas será no dia 8 de setembro, por rodízio de estudantes, desde que a evolução da Covid-19 permita. Foi apresentado um detalhado plano que incluía os protocolos sanitários e os procedimentos pedagógicos para diminuir os riscos à saúde da comunidade escolar e recuperar perdas de aprendizagem que ocorreram no período de isolamento social.

Ao falar do plano, o secretário destacou, por um lado, o tamanho do desafio logístico do retorno —o que justifica anunciar com tanta antecedência sua realização— e as regras que irão reger a educação básica em todo o território do estado.

Há dois pontos que ficam claros quando se pensa o retorno a atividades presenciais. O primeiro diz respeito à impossibilidade de se trabalhar nas escolas o currículo inteiro, mesmo que se prolongue o ano letivo. O segundo é o fato de que, de alguma maneira, trabalharemos com ensino híbrido —uma tendência educacional própria do século 21— mesmo que sem o necessário preparo para tanto, pelo menos até o final deste ano letivo.

No primeiro caso, a aprendizagem emergencial em casa, que vem ocorrendo neste momento anterior à volta às aulas, beneficiou-se da existência da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que definiu as aprendizagens mínimas a serem asseguradas a todos e, assim, servir também de base para o ensino à distância. Cerca de 93% das redes que ofereceram aulas ou conteúdos pedagógicos durante a pandemia utilizam a BNCC como referência, de acordo a pesquisa “A Educação não pode parar”, conduzida pelo Iede e pelo Instituto Rui Barbosa, ligado aos Tribunais de Contas.

Será necessário, na volta, dada a exiguidade de tempo de aulas que teremos no retorno, para além de usarmos a BNCC, sermos seletivos na abordagem dos tópicos a serem estudados. Daí por que o trabalho “O Mapa do Foco da BNCC”, do Instituto Reúna, ao priorizar as aprendizagens a serem enfatizadas no tempo de aula que restará, pode se mostrar particularmente útil. Para tanto, formações sólidas dos professores serão necessárias, assim como uma avaliação diagnóstica que nos dê segurança de que nenhum aluno ficará para trás.

Mas é o segundo ponto que trará a possibilidade de uma educação inovadora se houver boas políticas públicas para isso. A continuidade, por algum tempo, de atividades em casa, dado o rodízio, desde que com apoio de tecnologias adequadas e acessíveis a todos, poderá permitir que o professor progressivamente passe a atuar mais como um assegurador de aprendizagens e menos como um mero fornecedor de aulas. O tempo dirá se deu certo!

Claudia Costin - diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

Fonte: coluna jornal FSP

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