1.446 milionários
deixaram o Brasil esse ano. Você deveria se importar…
O Brasil está
perdendo uma corrida silenciosa: a da retenção e atração de pessoas e capital
que criam empregos, produtividade, inovação e riqueza.
Desde 2022, a saída de
milionários cresceu e deve bater recorde este ano.
“E daí?”
Daí que cada
milionário que vai embora leva muito mais do que um CPF. Leva empresas,
projetos, consumo, investimentos e, com eles, um pedaço do nosso crescimento
futuro.
Começa pelo
emprego direto. Cerca de 15% dos milionários são empreendedores e fundadores de
empresas; entre os “centimilionários” e bilionários, essa proporção passa de
60%.
Muitos deles abrem seus próximos negócios no novo país. As vagas nascem
lá, não aqui.
O efeito indireto amplifica o estrago: consumo que alimenta
cadeias inteiras — turismo, gastronomia, varejo premium, construção civil,
tecnologia, gestão de investimentos, seguros — esfria por aqui e aquece lá
fora.
Menos demanda local significa menos negócios locais, menos impostos aqui
e mais arrecadação em outro CEP, que não fica no Brasil.
A perda
patrimonial também tem efeito multiplicador. Investidores de alta renda irrigam
o mercado acionário, dão profundidade à Bolsa de Valores, ancoram IPOs e
lançamentos de debêntures e ainda financiam inovação.
Quando migram, muitas
vezes vendem ativos brasileiros, pressionando preços e reduzindo a riqueza de
quem fica. Parte deles abre capital no exterior; parte passa a alocar sua
poupança em outros mercados.
A consequência é um círculo vicioso: menos capital
local encarece o custo de financiamento por aqui, adiando ou impedindo novos
projetos, piorando nossa infraestrutura e achatando a produtividade do trabalho
e, por consequência, reduzindo salários por aqui.
Esse movimento
respinga na classe média. Empreendedores de alta renda tendem a criar empregos
qualificados, com salários acima da média. Se eles vão embora, o funil de vagas
“boas” estreita.
Some-se a isso o efeito cambial: ao transformar reais em
dólares para emigrar, aumentam a demanda pela moeda americana, pressionando o
câmbio e tornando mais caros bens e insumos importados — do remédio ao chip, do
fertilizante ao software.
Quem paga? Todo mundo que fica no país.
A boa notícia: dá
para reverter esse fluxo de fuga de milionários. País forte e competitivo retém
seus talentos e atrai os dos outros.
Como?
Primeiro, previsibilidade.
Segurança jurídica, regras estáveis, mediação eficiente, prazos processuais que
cabem no século XXI e carga regulatória mais simples reduzem o “custo de
ficar”.
Segundo, tributação que privilegia o investimento produtivo:
diferimento de imposto para capital de longo prazo, isenções condicionadas a
reinvestimento, reconhecimento de perdas e ganhos no tempo certo, neutralidade
entre investir via bolsa, debêntures ou fundos.
Terceiro, ambiente
favorável ao desenvolvimento do capital humano: escolas técnicas e STEM, formando
gente preparada na velocidade da expansão demanda; vistos e regimes especiais
para quem empreende, investe e transfere tecnologia; programas de
coinvestimento com fundos locais para ancorar startups e P&D.
Também precisamos
de uma estratégia de ancoragem para quem já gera valor aqui.
Planos de sucessão e “family offices” bem atendidos, governança simples para
abrir capital no Brasil, crédito privado com prazos longos, e cidades que
ofereçam qualidade de vida global — segurança, mobilidade, cultura, saúde e
educação — porque talento decide com a família, não só com a planilha.
É o
combo que países vencedores oferecem para transformar “ficar” em decisão óbvia
e “vir” em decisão desejada.
O objetivo não é
“proteger milionários”; é proteger o ciclo virtuoso que eles acionam quando
permanecem e investem: empresas que crescem, empregos melhores, produtividade
maior, juros mais baixos e renda que se espalha.
Quando o capital e o talento
ficam, o país arrecada mais mesmo com alíquotas menores, a Bolsa fica mais
eficiente, a taxa de câmbio oscila menos e a inovação é mais frequente.
Reter
e atrair essa turma é política industrial, fiscal e social juntas.
Se queremos um
Brasil competitivo, precisamos parar de exportar quem cria valor e começar a
importar valor.
O roteiro é claro: previsibilidade, simplicidade, mérito,
educação que forma para produzir e um ecossistema que transforme investimento
em resultado.
Quem fica — e quem vem — faz o país crescer. O resto é perda de
patrimônio, de empregos e de tempo. E tempo, na economia, vale ouro.
RICARDO AMORIM - autor do bestseller Depois da
Tempestade, o economista mais influente do Brasil segundo a revista
Forbes, o brasileiro mais influente no LinkedIn,