Sou alcoólatra, alcoólica ou
alcoolista, não importa a denominação
Em 'Vale Tudo', todos chamam Heleninha de alcoolista, como se tivessem
feito aula; mais vale entender a amplitude da doença
Alcoólatra, alcoólica ou
alcoolista? Venho acompanhando a novela das nove da Globo, com a personagem Heleninha Roitman, que tem
problemas com o álcool.
Reparei que todos falam alcoolista quando se referem a
ela, como se tivessem feito um cursinho sobre a doença. Olha, sempre me apresentei como alcoólatra e me
sinto bem. Não há, na verdade, uma denominação correta.
O importante é olhar
para o alcoolismo como um problema que existe em todos os cantos, e aí palmas
para a novela. A audiência atinge todos os lares, de todas as classes sociais.
Confesso que me incomoda eles
falarem tanto em "alcoolista". Sei lá, acho uma bobagem sem tamanho
ficar tão preocupado em como se referir à Heleninha. Explico: Heleninha é uma
alcoólatra em recuperação.
Já foi internada algumas vezes, fez coisas que a
deixam muito triste. Já incendiou sua casa com o filho dentro. O menino quase
morreu. Hoje está em casa, com o amparo da família. Teve recaída, e isso faz
parte da doença e não da recuperação.
Poderia trocar o nome dela pelo
de várias mulheres que estão em AA e têm histórias tão tristes quanto a dela. A
grande sacada do grupo é isso. Você se identifica com os outros pela dor, a tal
terapia do espelho.
São questões muito semelhantes e com pessoas de todas as
classes sociais, de todas as idades. No meu caso, há a questão da maternidade,
né? Na fase mais apropriada para ser mãe eu
estava completamente fora da caixinha e agora é tarde. Todos os Dias das Mães
eu sofro.
Vejo na internet fotos de mulheres com barrigão, com filhos. Acho
essa celebração muito desnecessária.
Para quem tem mãe e/ou filho,
tudo bem. Mas e quem perdeu a mãe recentemente? E quem está com a mãe internada
num hospital ou numa clínica de recuperação? Sua mãe é alcoólatra e você sofre
horrores há anos?
Eu te entendo e acho uma batalha imensa ter um parente
alcoólatra. Fica sempre uma baita tensão no ar. Se está bebendo é um
sofrimento, se não está bebendo, sempre paira o medo de uma recaída.
Digo isso porque o alcoolismo se
alastra para toda a família. Todo mundo sofre junto. E se a pessoa é mulher, é
pior. Porque além de tudo existe o preconceito. Já ouvi muito que homem bêbado
é feio, mulher é pior ainda.
Hoje não ligo, tá tudo certo, sei a barra da minha
doença. Do quanto ela me persegue. Adoro escrever essas colunas porque elas me
ajudam a desabafar coisas que estão apertadas no meu peito.
Sou uma mulher que já ficou em
bares de pernas abertas, ou com o sutiã aparecendo, ou tentando abraçar pessoas
que eu nunca tinha visto. Já levei caras estranhos para a minha casa. Já fiz
tanto ou pior que a Heleninha. A gente tem em comum tanta coisa…
Se pudesse sentar com a
Heleninha, iríamos conversar muito. Eu contaria minha história e diria por que
estou há uns bons anos sem beber.
Claro que já tive vontade de beber nesse
tempo, mas sempre me apeguei às dicas dos AA. Evito fome, cansaço, raiva e solidão.
Foi a melhor coisa que aprendi. Ainda acrescentaria que evito emoções fortes.
Quando tive recaídas, na
maioria das vezes foi por questões amorosas. Nunca fui boa nisso.
Afinal, sou uma alcoólatra,
alcoólica, ou alcoolista. Em suma, tenho sérios problemas com o álcool.
ALICE S. – blg Vida de
Alcoólatra