'Belos velhos' ensinam a construir projetos de vida


Quais são as características dos homens e mulheres que estão inventando uma "bela velhice"?


Recentemente, a Folha publicou uma matéria com o título: "Após recorde de 122 anos, a tendência é que as pessoas vivam até os 115 anos", mostrando que os avanços médicos das últimas décadas aumentaram não apenas a expectativa de vida, mas, também, a qualidade de vida.

Lutamos tanto para ter sucesso, dinheiro, fama e poder, mas o que é realmente importante na velhice? Quais são as características dos homens e mulheres que estão inventando uma "bela velhice"?

Na minha pesquisa "Corpo, envelhecimento e felicidade" tenho entrevistado brasileiros de mais de 90 anos.

Sara, 91, começou a nossa conversa dizendo: "Já sei, você quer saber quais são os meus projetos de vida". Surpresa com seu entusiasmo, concordei: "Isso mesmo, quero saber quais são os seus projetos".

Ela contou que está escrevendo um livro com histórias da sua família e quer publicar alguns casos engraçados na rede social Facebook.

Sara, 91 anos, está escrevendo suas memórias; Telma, 90 anos, estuda na Universidade da Terceira Idade; Anderson, 93 anos, toca pandeiro em um grupo musical; Regina, 90 anos, dança todas as sextas-feiras; Luiz, 92 anos, caminha diariamente 5 km; Ivone, 90 anos, viaja com as amigas; Ruth, 92 anos, não perde um só filme ou peça de teatro; Taís, 94 anos, conversa com as filhas pelo Skype; João, 92 anos, estuda filosofia; Maria, 91 anos, toca piano para os amigos; Irene, 90 anos, planeja uma viagem para o exterior com os netos.

Todos são independentes, lúcidos e têm boa saúde ou, como dizem, com problemas de saúde "administráveis" e "sob controle". Eles não se aposentaram de si mesmos. Todos têm seus projetos, grandes e pequenos, que dão significado às suas vidas.

Quanto mais observo os "belos velhos", mais tenho o desejo de conseguir chegar aos 90 anos (ou mais), com a mesma energia, entusiasmo e vitalidade. Eles estão me ensinando a construir os meus projetos de vida que irão dar algum sentido à minha existência. Com eles, perdi o medo de envelhecer.

Há quase 30 anos pesquiso homens e mulheres de todas as idades, mas, agora, prestando atenção nos que têm mais de 90 anos, sempre me pergunto: Quais são os meus projetos de vida? O que é realmente importante para construir uma "bela velhice"?

Mirian Goldenberg - antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É autora de 'Coroas: corpo, envelhecimento, casamento e infidelidade'.

Fonte: coluna jornal FSP

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