Se as escolas querem apenas ensinar matéria, a sociedade não precisa delas

Alunos durante aula em escola estadual de São Paulo

Na semana passada recebi a foto de um comunicado colocado na frente de uma escola e, simultaneamente, a reportagem sobre uma escola que oferece serviço de "faz-tudo" para pais. As escolas se localizam em Estados diferentes e, mesmo sendo exemplos radicais, nos permitem refletir a respeito da tal parceria família/escola.

A primeira escola colocou um "lembrete aos pais". Nele, ela estabelece que cabe aos pais ensinar aos filhos a dizer "Bom dia, boa tarde, por favor, com licença, desculpe e muito obrigado". E continua: é em casa que o filho deve aprender a "ser honesto, ser pontual, não xingar, ser solidário, respeitar os amigos, respeitar os mais velhos, e RESPEITAR OS PROFESSORES PRINCIPALMENTE!". As letras maiúsculas e a exclamação estão no texto da escola.

"É em casa que se aprende a não falar de boca cheia, a ser limpo e a não jogar lixo no chão", diz o cartaz. Não terminou, caro leitor: "Ainda em casa é que se aprende a ser organizado, a cuidar das suas coisas e a não mexer nas coisas dos outros." O que cabe à escola, nesse comunicado? "Na escola os professores ensinam matemática, português, história, geografia, inglês, ciências e educação física", e "reforçam o que o aluno aprendeu em casa!!!", com as três exclamações.

Já a segunda escola, segundo a reportagem, oferece "serviços técnicos" aos pais para que eles tenham mais tempo com os filhos. Professores para prestar serviço de babá, papinhas congeladas, lavanderia e corte de cabelo são alguns dos serviços oferecidos.

São os pais que deveriam realizar o que chamamos de socialização primária: ensinar aos filhos a se comunicar, a se cuidar, a se alimentar, a conviver, a entender e a apreender os valores e costumes daquela sociedade, por exemplo. Esse processo ocorre durante toda a infância e esses ensinamentos se dão no ambiente familiar e com os que são próximos da família, o que significa que a criança pode entender –e irá testar isso– que em locais públicos ela pode se comportar de modo diferente.

Como as crianças vão para a escola bem cedo, cabe também à instituição escolar esse papel. Além disso, tem também a tão falada "educação para a cidadania", que deve contemplar o ensino da convivência respeitosa entre pessoas que não são amigas, próximas, ou conhecidas. A essas pessoas damos o nome de colega, que não é sinônimo de amigo.

Só na escola uma criança pode aprender isso! Se ela quer apenas ensinar conteúdos escolares, pode fechar suas portas: a sociedade não precisará mais dela já que esses conteúdos podem ser aprendidos –e, em geral, de um jeito bem mais interessante para os mais novos– em muitos outros locais. Na internet, por exemplo.

E os serviços que ter um filho exige dos pais? Lavar roupa, levar para cortar o cabelo, alimentar, por exemplo. Cabe à escola esse papel? Melhor abrir uma lavanderia, uma fábrica de comida congelada, um salão de cabeleireiro, não é? Ah! Mas assim demandará mais trabalho aos pais. Isso é cuidar dos filhos que eles desejaram ter.

Resumo da ópera: parceria família/escola é entendida como determinar o papel do outro e/ou atender as demandas do outro. E os alunos? E a educação deles? Precisamos deixar de ver apenas o que queremos e olhar para o que os filhos e alunos precisam e devem aprender, não é?

Rosely Sayão - psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar.

Fonte: coluna jornal FSP 
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