'Tsundoku':
quando a pilha de livros cresce, mas a leitura encolhe
Você
também está lendo bem menos? Está cheio de livros na cabeceira, mas não
consegue nem começá-los?
Ou pior: quando chega neles, vai lendo a conta-gotas,
entre uma olhadinha e outra nas redes sociais ou então parando para responder
zaps e emails "urgentes"?
Sim,
estamos comprovadamente perdendo nossa capacidade de concentração e foco, em
tempos de atenção fragmentada, até o TED - aquele festival de palestras curtas
- teve que reduzir o tempo máximo das falas de 19 para 13 minutos apenas,
porque ninguém acompanhava até o fim. TREZE minutos.
O
mais maluco é que estamos lendo menos, mas comprando livros sem parar - também
por causa das redes. Você vê na internet um livro indicado por alguém; compra
na hora; o livro chega, você lê três páginas e para por um instante, só para
dar "uma olhadinha" no feed.
Até que percebe que o tempo que tinha
para ler o livro que você viu nas redes você gastou... nas redes.
Quem sabe até
comprando outro livro e aumentando ainda mais a pilha da mesa de cabeceira.
Essa coisa de comprar livros e não ler tem até uma palavra própria em japonês:
"tsundoku".
A
economia do silêncio e a crise da leitura
A
aflição de (ex?) leitores fez virar tendência a fuga para retiros de leitura.
Será a salvação?
Isso
tem a ver com a economia do silêncio, sobre a qual já falei aqui.
Ou seja, um
grupo de poucas pessoas se hospeda em algum lugar calmo e lindo, perto da
natureza, com períodos dedicados à leitura, intercalados por atividades sociais
(e não redes) - mas que são opcionais, importante dizer.
Tem
também os clubes do livro. Parece que ler junto de mais gente e conversar sobre
tudo ajuda bem no fluxo.
Há uma lista de celebridades à frente de clubes: Dua
Lipa, Emma Roberts, Kaia Gerber, Dakota Johnson, além das veteranas no ofício,
Reese Witherspoon e Oprah Winfrey.
Há
ainda os booktubers, que, quando bons, nos deixam com muita vontade de ler (ou
comprar?) os livros que anunciam.
Nas livrarias, por exemplo, os espaços
dedicados à exposição de livros anunciados no TikTok (#BookTok) são garantia de
vendas.
Até
no mercado de moda, os livros também estão... na moda. MiuMiu, Prada, Saint
Laurent e Tiffany & Co têm flertado com a literatura, seja em campanhas,
clubes de leitura ou parcerias com títulos editoriais, como fez a J.Crew com a
revista New Yorker.
Mas
mesmo com tanto estímulo, os números do Brasil desapontam. Por aqui, 53% da
população se considera "não leitora", segundo o estudo Retratos da
Leitura no Brasil, realizado pelo Instituto Pró-Livro (IPL) e divulgado em
2024.
Esse total é 8% maior do que em 2007, ou seja, a leitura vem diminuindo
com o passar dos anos. Por definição da pesquisa, um leitor é uma pessoa que
leu um livro inteiro ou em partes nos últimos três meses. Descubro que ainda
sou leitora. Ufa.
Outros
dados importantes:
Menos da metade da
população, 43%, lê livros por vontade própria;
Apenas 27% lê
livros inteiros;
Cerca de 33% da
população não leitora respondeu que não lê por falta de tempo;
Entre leitores e
não leitores, 78% deles disseram que navegar na internet é o que mais gostam de
fazer em seu tempo livre - e a gente sabe muito bem como a web rouba esse nosso
tempo "livre".
E
olha a tristeza: uma pesquisa da Harper Collins do Reino Unido mostra que os
pais estão perdendo o gosto de ler para os filhos.
Menos da metade afirma que a
leitura em voz alta é divertida. Já entre os pais pertencentes à Geração Z, 28%
pensam na leitura como "mais uma matéria para aprender do que uma coisa
divertida para fazer".
Mas
o estudo também comprova o óbvio: crianças que ganham leituras diariamente têm
quase três vezes mais chance de escolher ler por conta própria em comparação às
que ganham apenas uma vez por semana. Ah, para as minhas meninas eu leio! Essa
missão está cumprida.
Então,
desliguem os celulares, tirem as telas dos quartos e acendam a luzinha de
leitura! Mergulhar num livro, agora, tem que ser atividade com hora marcada.
Não
desista!