Um capacete para esfriar a cabeça


Um consórcio de seis entidades, entre elas a Fundação Bill & Melinda Gates, enfrenta o desafio de dar apoio a recém-nascidos e suas mães durante o trabalho de parto, sobretudo em regiões do globo pobres ou inacessíveis, sem assistência médico-hospitalar adequada.

A iniciativa, chamada Saving Lives at Birth, já premiou e financiou mais de cem cientistas e suas inovações desde 2011.

Este ano, temos um brasileiro entre os 50 finalistas que concorrem ao prêmio: Renato Rozental, pesquisador da Fiocruz e da UFRJ.

O neurocientista brasileiro concorre com um capacete – branco, todo enfeitado de bichinhos coloridos – que permite resfriar o cérebro de recém-nascidos que sofreram hipóxia, ou seja, falta de oxigênio durante o parto. Se não revertida rapidamente, nas horas que se seguem ao parto, a hipóxia pode causar lesões cerebrais, deixar sequelas para o resto da vida, e mesmo levar à morte.

Resfriar o cérebro não é, à primeira vista, algo desejável. Em regiões carentes, um dos riscos no começo da vida é justamente o resfriamento do corpo dos recém-nascidos, já que o cérebro ao nascer não sabe ainda manter estável a temperatura do corpo.

Nos últimos dez anos, contudo, a neurociência aprendeu que o resfriamento controlado pode ser um grande aliado – sobretudo se somente o cérebro for resfriado. O problema é que se lesões do cérebro, traumáticas (causadas por pancadas vindas de fora) ou isquêmicas (causadas pela falta de oxigênio decorrente de interrupção do fluxo sanguíneo, seja por entupimento ou hemorragia), já são ruins por si só, sua ocorrência ainda é capaz de desencadear uma série de outros eventos que multiplicam a lesão. Inflamação, febre e morte celular são alguns deles.

Mas todos eles podem ser contidos, ou diminuídos, reduzindo-se imediatamente a temperatura do cérebro em alguns poucos graus, de maneira controlada.

O capacete desenvolvido por Renato e sua equipe, que já despertou o interesse da liga de futebol americano nos EUA e da polícia militar no Brasil, faz isso – e, se for um dos vencedores do Saving Lives at Birth 2016, poderá ajudar inúmeros recém-nascidos mundo afora.

Renato ainda concorre ao prêmio de projeto mais votado pelo público. Quem quiser conhecer os projetos pode acessá-los no site e votar.

Boa sorte, Renato! 

Suzana Herculano-Houzel - neurocientista, professora da UFRJ, autora do livro "Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor" (ed. Sextante)

Fonte: www.suzanaherculanohouzel.com

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