O jogo do senta


Além do jogo que encanta, dos bons organizadores no meio-campo e de tantas outras coisas técnicas, nosso futebol também tem sentido falta de histórias pitorescas. Como as que meu pai contava e eu ouvia meio cabreiro, desconfiado de que havia exageros aqui ou ali, da mesma forma que os jornalistas Sandro Moreyra e João Saldanha exageravam – quando não simplesmente as inventavam – nas histórias sobre Manga e Mané Garrincha. (Jorge Murtinho, no blog “Questões do Futebol”, no site da revista piauí)

Há redondos 70 anos, num 10 de setembro, no pequeno e simpático estádio de General Severiano, em jogo pelo segundo turno do Campeonato Carioca de 1944, o Botafogo marcava – através de Geninho – seu quinto gol num clássico contra o Flamengo, cujo timaço (que viria a ser tricampeão naquele ano com o mítico gol de Agustín Valido), sentou no gramado para protestar alegando que a bola não teria entrado, e pressionar o obeso árbitro Aristides “Mossoró” Figueira a anular o gol. Sem sucesso. Botafogo 5 a 2, num jogo entrou para a História e o folclore do futebol carioca.

O jornalista e professor de jornalismo Paulo Cezar Guimarães – o PC –, reconhecido gozador das relações entre as torcidas do Botafogo e do Flamengo, encarou o desafio de produzir um livro sério sobre um caso jocoso, o canto da torcida do Botafogo (“Senta, para não apanhar de mais”) – ecoando há 70 anos, Garrincha para um lado, Zico pro outro, o “chororô” do Botafogo em 2008, a “cavadinha” do Loco Abreu no título carioca do Botafogo em 2010... enfim, uma rivalidade que atravessa os tempos e permeia as relações entre as torcidas.

Para escrever Jogo do Senta: a verdadeira origem do chororô, Paulo Cezar Guimarães, mergulhou em jornais da época, entrevistou os dois lados (como convém a um bom jornalista), recuperou imagens, descobriu até quatro “velhinhos” que presenciaram a partida e confirmaram: a bola entrou, e o time do Flamengo sentou.

Para quem achava que “esse jogo não existiu”, “isso é uma calúnia”, “quero ver você provar”, “cadê as fotos?”, PC pesquisou os jornais da época – que fazem parte do caderno de imagens do livro – que abriram páginas e mais páginas, para falar do “chororô” rubro-negro, que recorreu ao Tribunal de Penas da Federação Carioca, fazendo a repercussão durar um bom tempo.

O Flamengo perdeu o jogo e a renda, mas ganhou o Campeonato – aliás, tri. Com um timaço que tinha Zizinho e a trinca Biguá, Bria & Jaime. O Botafogo ganhou o jogo, mas só se tornaria campeão de novo quatro anos depois. Sem Heleno de Freitas, que marcou dois gols no “Jogo do Senta”.

O prefácio é do eminente jornalista Botafoguense Roberto Porto, comentando a rivalidade que atravessa gerações. Para ouvir o “outro lado”, o posfácio é do escritor rubro-negro Marcos Eduardo Neves, biógrafo de Heleno de Freitas, que devolve a gozação, mas elogia a preservação da memória. E o radialista e humorista Maurício Menezes, criador do Plantão de Notícias, escreveu uma orelha engraçadíssima.

Um livro que recupera mais uma história deliciosa do futebol carioca.

O autor
PC Guimarães -  jornalista e professor da Faculdade Hélio Alonso, no Rio de Janeiro. Trabalhou com muito orgulho no “O Globo”, mas, por sua “reconhecida e radical imparcialidade”, nunca quis cobrir a área de Esportes. É Botafoguense porque não gosta de torcer por “times comuns” e porque viu Rogério, Gérson, Roberto Miranda, Jairzinho e Paulo Cezar Caju jogando juntos no Botafogo. Em 2010, escreveu “Edição de Impressos”, livro sobre Jornalismo, para as Faculdades CCAA. É autor do Blog do PC e editor do blog sobre o Botafogo no site do Jornal do Brasil. Jogo do Senta: a verdadeira origem do chororôé o seu primeiro livro sobre o futebol, isto é, sobre o Botafogo.

 

Jogo do Senta: a verdadeira origem do chororô, de PC Guimarães, 164 pp., prefácio de Roberto Porto, posfácio de Marcos Eduardo Neves, “orelha” de Maurício Menezes,

Editora livrosdefutebol.com, Rio de Janeiro, 2014; R$35

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